domingo, 4 de maio de 2014

A nevasca



Ela era diferente. Não precisava chamar atenção para ter todos os olhos voltados para si. Ela era inteligente. Sabia de coisas que ninguém sequer tinha ouvido falar. Ela era interessante. Tinha olhos com um brilho indecifrável, escondia um segredo por de trás deles. Ela transbordava mistérios e intimidava os curiosos de plantão. Não se entregava de primeira, nem de segunda e muito menos de terceira. Talvez nem na quinta tentativa ela se deixava ser despida, mas se entregava ao humor. Nunca negava uma longa risada e sempre via graça em tudo, apesar de quase ninguém ter tido a sorte de se deparar com o sorriso brando dela.
Ela era dissimulada. Jamais demonstrava com clareza o que estava sentindo. Ninguém poderia dizer se ela estava feliz ou triste, pois seus meios sorrisos não eram confiáveis. Ela era manipuladora. Sempre conseguia o que queria, sempre mudava a opinião dos outros, sempre transmitia segurança pelos seus bons conselhos e seu vasto conhecimento sobre as reações humanas.
Ela era linda, mas não sabia disso. Tinha a capacidade de deixar qualquer homem aos seus pés, mas não usando seus atributos físicos. Ela seduzia com palavras. Dominava a junção de palavras simples e as transformavam em complexas. Com uma rápida olhada, ela descrevia os defeitos de qualquer um e raramente errava. Priorizava o que havia de ruim dentro de qualquer um antes de descobrir o que havia de bom. Ela se encantava fácil com pessoas simpáticas, mas sempre tinha o pé atrás com elas. Evitava ao máximo decepções. Não duvida da capacidade que as pessoas tinham de decepcioná-la e por isso não costumava subestima-los com primeiras impressões.
Ela era forte. Fortes demais para uma garota tão jovens. Nunca se dava por vencida. Sempre corria atrás do que queria, ignorando as consequências que poderiam atormentá-la pelo resto da vida. Ela era determinada como uma andorinha fugindo do inverno. Sabia ser paciente nas situações mais complicadas e mantinha a elegância nas brigas mais vulgares. Ter compostura era sua prioridade acima de qualquer emoção.
Ela temia o amor mais do que a própria morte. E mesmo que seus machucados já tenham sido cicatrizados, ela já não era mais a mesma há muito tempo. Aprendera a si proteger dos homens, do mundo e de si mesma. Ela podia amar intensamente e podia ser amada por inteiro. Mas enquanto seu coração estivesse quebrado, nenhum feixe de esperança iria aquecer o frio que por dentro se criou, matando qualquer chance de florescer a salvação que ela precisava. A neve cairia durante bons anos.
Ela tornara-se vazia.
Ela tornara-se fria e destrutiva.  
Ela era uma nevasca. 

Por Ridrya Carolin