sábado, 22 de julho de 2017

Igual a você


"Vocês ainda se falam?"
Essa é a pergunta que mais venho ouvindo nos últimos meses quando alguém cita o seu nome numa simples conversa casual. E é uma pergunta que eu recebia com total estranheza, afinal, você é minha melhor amiga, todo mundo sabe. Então por que do nada começaram a fazer essa pergunta como se algo ruim tivesse acontecido? 
Eu não entendia o proposito daquela pergunta, mas ela me incomodava de uma maneira tão violenta que me machucava. Tudo bem, eu não sou tão tonta assim, eu sei que alguma coisa mudou. Eu sei que estamos mais afastadas que o normal. Você vivia na minha casa e agora faz meses que não me visita. Nos falávamos por mensagem todos os dias e agora você parou de responder as minhas, e quando responde parece que não tem interesse em continuar. Você sempre me marcava em posts engraçados, frases sobre signos, em textos fofos sobre amizade no Facebook e, de repente, você parou.  
De repente, você parou. De repente, você sumiu. De repente, você se mudou. 
De repente, começaram a me fazer aquela pergunta estranha.
De repente, eu comecei a me sentir estranha, te sentir estranha.
De repente tem essa monstruosa distância entre nós que eu não criei, que eu nem mesmo vi se formar. 
E quando eu respondia do jeito mais normal e seguro do mundo "Claro que não", a resposta parecia errada. A pessoa me olhava surpresa, como se estivesse esperando alegações finais, explicações para o que aconteceu. 
Mas eu não sei o que aconteceu.
Aconteceu alguma coisa? 
Até semana passada eu ainda insistia em te mandar mensagem, até cheguei a falar o quanto eu estava chateada com a sua ausência e você pareceu entender. Parecia que íamos resolver o que quer que fosse o problema e voltaríamos ao normal. 
Eu fui uma idiota, né? Você deve até achar engraçado. 
Enquanto eu continuava te considerando minha melhor amiga, você estava aí escondida fazendo coisas que eu não podia saber, mas que todo mundo sabia. Enquanto eu continuava insistindo na nossa amizade, você estava por aí "muito bem acompanhada", feliz da vida sem sentir minha falta. Enquanto eu tava aqui quebrando a cabeça para entender que merda estava acontecendo com você, você estava pelos cantos escuros da rua com esse segredo nojento, dormindo tranquilamente como se não tivesse perdido nada importante. E, talvez, não tenha mesmo. Talvez eu não fosse importante pra você como você era pra mim. 
Mas não foi esse segredo, não foi "ele" que arruinou tudo. Foi você, sozinha e sem ajuda de ninguém. Foi o problema, as desculpas, as mentiras, a distância, a situação que você criou. Foi a escolha que você fez. Você tinha mil escolhas. Você podia ter me procurado, ter conversado, ter esclarecido, ter perguntado, ter se importado. Você poderia ter sido franca, poderia ter sido honesta, poderia ter sido leal. 
Você poderia ter sido amiga. A minha amiga. A amiga que está no porta-retrato que você me deu ano passado, que fica bem ao lado da minha cama. Porque eu teria sido sua amiga, continuaria sendo. Por você, eu entenderia, eu apoiaria, eu ajudaria. 
Você poderia ter me escolhido.
Mas não, você fez todas as escolhas da qual eu não fazia parte. Da qual eu fui excluída, não existia. Você fez a escolha que me tiraria da sua vida. Você fez o contrário do que faria uma verdadeira amiga. Do que eu, no seu lugar, faria. 
Você deixou que eu ficasse sabendo a resposta daquela maldita pergunta dentro de um salão de beleza numa terça-feira qualquer, por meio de comentários e fofocas, como se você fosse só uma mera conhecida de vista.
E lá dentro, me perguntaram de novo: 
- Vocês ainda se falam?
Eu não sei como chegamos até aqui. Foi tão rápido e tão lento ao mesmo tempo. Tão desprezível e doloroso. Tão comum e imprevisível. Eu nunca achei que você seria alguém que eu tivesse que me desfazer, tivesse que esquecer, tivesse que fingir que nunca existiu. Eu não esperava essa dor que você causou, porque eu teria feito qualquer coisa por você. Eu não comecei a te chamar de amiga anos atrás só por chamar, te chamei de amiga porque eu confiava, porque você era minha irmãzinha, porque eu te amava. 
E agora eu me sinto tão estúpida, tão burra. Eu estou a um passo de te odiar e, ao mesmo tempo, não tô pronta pra isso e acho que nunca vou estar. Nunca vou conseguir te odiar. Então, quando pensar mim, quando pensar em nós, quando pensar no antes, quando pensar nos momentos, nas fotos, nos vídeos, nos textos. Quando pensar no que aconteceu, no que você fez, em quem você escolheu, não espere, nem por um segundo, em nenhuma hipótese, que eu seja igual a você. 
- Não. Não somos mais amigas - eu respondi, finalmente sendo atingida pela realidade que eu tanto ignorei. E foi a coisa mais difícil que eu já falei na minha vida.
Quando cheguei em casa, eu tirei todas as nossas fotos do meu quarto e guardei numa caixa. Não tinha mais porque continuar com aquela foto ao lado da minha cama, afinal você já tinha solicitado o fim e só faltava eu assinar de vez o final. 
PS: Eu realmente espero, com todo meu coração, que tenha valido a pena.

Para ler ouvindo: Igual a você - Nenhum de Nós

Por Ridrya Carolin.