sexta-feira, 28 de março de 2014

A teoria do amor



Você vai olhar-me com atenção 
Vai ver minhas rugas 
e minhas gastas linhas de expressão
Vai dizer-me com clareza 
se esse amor pode ganhar dos números
e das teorias da razão

E se o tempo não empatar
e nem as mudanças das estações nos atingir 
Esqueceremos os rótulos,
as leis da evolução,
a tal história sobre adaptação,
as criticas que más linguás dirão

Para o mundo
fecharei meus olhos 
e para ti 
abrirei meu coração 
Para os outros
me farei de surdo e mudo
Não brincarei mais do uso e do desuso
e nem me lembrarei dos amores antigos
ou das estúpidas regras sobre amar
Não serei mais incrédulo 
e nem um homem com problemas sérios

Quando estivermos juntos
a gente ignora os pedidos de licença
Não perguntaremos a idade 
Não faremos a tal conta de diferença 

Quando estivermos juntos
a gente ignora o mundo
Não veremos o que se passa na televisão
ou o que seus amigos jornalistas 
andam escrevendo na redação

Você não tem que ser minha
Não precisa ficar até de manhã
Não precisa amar alguém como eu
e nem viver o que eu já vivi
Você só precisa entender 
que enquanto eu estiver por ai 
vou ser seu e fim.

Por Ridrya Carolin

sexta-feira, 14 de março de 2014

Noite do cachorro-quente


Era uma terça-feira do mês de março. A noite estava calma, o céu límpido - sem nenhuma nuvem - e as estrelas totalmente visíveis no alto. A lua cheia ainda estava se formando, surgindo de pouquinho em pouquinho. Eles tinham combinado de assistir um filme de comédia depois de fazer um trabalho universitário. Dificilmente se viam dia de semana, mas abriram uma exceção e criaram um pretexto qualquer para estarem juntos naquela noite. Sem desconfiar, um desejava a presença do outro.
Ela tinha feito cachorro-quente para o jantar. Fizera tudo nos mínimos detalhes, do jeito que a mãe havia ensinado alguns anos atrás. Deixou tudo pronto em cima da mesa e correu para o quarto. Tomou um rápido banho, lavou o rosto várias vezes e escovou os dentes. Passou uma maquiagem básica, nada muito exagerado. Seus cabelos castanhos caíram pelos ombros, formando uma cachoeira que modelava seu rosto afável. Olhava-se no espelho de todos os ângulos possíveis, buscando perfeição e ficou insatisfeita com o resultado. Revisou a roupa que tinha escolhido, uma calça jeans e uma blusa vermelha lisa. Desconfortável, ela pensou em trocar de blusa, mas não dava mais tempo. A campainha tinha acabado de ser tocada. Ela correu pelas escadas e abriu a porta. Ele estava parado na frente dela, sorrindo de um jeito desengonçado. Usava jeans largo e uma blusa xadrez. Os dois trocaram um olhar tímido, apesar da intimidade que tinham. Eram amigos de longa data, desde os tempos de colégio. Agora estavam na faculdade, ela cursava jornalismo e ele engenharia civil. 
Ambos tinham mudado tanto no decorrer dos anos, que sentiram o choque da mudança no rosto um do outro. Ela não era mais uma garotinha que idolatrava Hannah Montana e ele não era mais um garotinho que tinha nojo das meninas, muito pelo contrário. Ela o convidou para entrar, abrindo espaço e ele entrou com a cabeça baixa, passando os dedos pelos cabelos dourados. Ele olhou tudo em volta e concentrou sua atenção em um porta-retrato com uma foto dela criança. Não mudou nada, ele pensou sorrindo, continuava com a mesma carinha.
No começo eles estavam sendo torturados por um silêncio perturbador. Então ela perguntou sobre a família dele e quis saber como estava seu cachorro, um Pastor Alemão chamado Max. Ele perguntou quais eram os planos dela para o futuro e mentalmente se perguntava se talvez estivesse incluído. A resposta não o surpreendeu. Ela ainda falava sobre escrever livros e virar uma romancista publicada. Com os olhos presos naquele sorriso encantador, ele se sentiu confortável por saber que ela ainda inspirava aquele ar sonhador da infância. E por um momento pensou que sem isso, ela jamais seria a mesma. Ela lhe contou como foi a mudança para a nova cidade e como estava empolgada com a faculdade. Revelou ainda ter os típicos desentendimentos com o pai sobre a profissão que escolhera e sobre qualquer outro tipo de assunto. Ele pôde notar pelos olhos castanhos dela que a conversa havia ficado pesada e para descontrair, contou uma piada totalmente sem graça que a fez gargalhar por longos minutos. Ele já estava tão farto daquela piada que nem humor conseguia sentir, mas acabou rindo. A risada dela era tão contagiante que ele não podia conter a si mesmo e alguns segundos depois os dois gargalharam juntos até o ritmo ficar sincronizado. 
O cachorro quente estava uma delícia. Era o melhor cachorro-quente que ele já havia experimentado. Ela se surpreendeu com o próprio capricho e ficou aliviada. Era a primeira vez que acertava a receita secreta de cachorro-quente de sua mãe. Ele repetia o seu terceiro prato, enquanto ela ainda estava no primeiro. De repente, ele olhou para ela e um sorriso enorme tomou conta do seu rosto. Ela estava com a boca toda suja de molho de tomate e parecia não fazer a mínima ideia disso. Foi então que ele se deu conta do quanto a amava, suja ou não de cachorro-quente. Ela sempre teria aquele jeito infantil e ele sempre a amaria por isso. 
- O que foi? - ela perguntou, desconfiando daquele sorriso travesso.
Ele observou o rosto dela detalhadamente, cercando-a com seus olhos verdes e respondeu:
- Você é linda. Só isso.
Os dois trocaram um olhar terno e sorriram um para o outro. 

Por Ridrya Carolin