domingo, 20 de abril de 2014

O meu avesso

               


Eu espero que toda vez
que ele coloque a cabeça no travesseiro
Ele veja meu rosto 
ele ouça meu choro
se afogue nas minhas lágrimas
e sinta toda a minha dor
Espero que ele seja torturado 
pelo ódio que em mim se criou 

Eu espero que quando ele feche os olhos
Ele ouça meu grito 
sinta minha pele rasgando 
meus ossos quebrando
e meu coração rachando 

Espero que ele consiga tudo que sempre quis
que por um bom tempo seja feliz
até o dia em que eu ressurgir 
para acertar as contas do passado
e cobrar a sua divida 
centavo por centavo 

Eu vou te mostrar o meu avesso
um lado que eu ainda desconheço
e que por muito tempo tive medo
Uma viciada em desacreditar 
Um alguém que desaprendeu a amar

Eu espero que quando o próximo vier
Eu já esteja acostumada 
Com as armas apontadas 
pronta para devora-lo
até estar carregada 
e com a minha sobrevivência garantida 
nesse mundo feroz
e mal amado 

Por Ridrya Carolin

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O resultado da subtração





As horas estavam passando rápido demais. A noite já estava chegando ao fim. Ele fechava os olhos, perseguindo o sono que não vinha. Rolava na cama de um lado para o outro, mudava de posição de dois em dois minutos e de nada adiantava. Depois de tantas tentativas em vão, ele se rendeu a insônia. Encarava o teto branco que nada de especial tinha, mas no meio desse grande nada ele via o rosto dela. Por que era tão difícil esquece-la? Por que ele não conseguia fingir que ela não existia? Dizem que a pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos. Ele nunca iria poder confirmar isso. Nem se tentasse, conseguiria mentir para si mesmo.
Ele não era mais um garoto. Já era um homem formado, experiente, vivido. Ele sabia muito bem que essa obsessão por ela tinha um nome, mas não tinha explicação. Ela não era a mulher certa para ele. Ela nem se quer era uma mulher ainda. Era um jovem em transição, ainda estava no início da vida adulta e nada do mundo sabia. Ela era ingênua, acreditava em coisas tolas. Coisas que ele já deixara de acreditar há muito tempo e perto dela, de certa forma, voltava a crer em coisas boas de novo sem se sentir um tolo por isso. Ele voltava a rir de coisas sem graça. As vezes, nem sabia porque estava rindo, só acompanhava a risada dela consequentemente. Ela tinha a irritante mania de rir sozinha, rir do nada. A maioria de suas conversas começavam com uma briga, pois ela era acostumada a achar que tinha razão em tudo e nunca ficava sem argumentos válidos. E por mais estranho que pareça, as conversas terminavam com um entendimento. Eles se entendiam, a maneira deles, respeitando um ao outro.
Ela era jovem e insegura, mas diferente das outras mulheres, ela não fazia rodeios, demonstrava confiar no seu taco e nunca entrava em um jogo que podia perder. Todo dia ela vinha com um problema que ela mesma criou e ele sempre tinha a solução que ele mesmo achou. Os dois tinham visão diferente de mundo, ela era sonhadora e ele realista. Ela era sensata e ele impulsivo. Ela tinha medo de qualquer emoção mais forte e ele não demonstrava qualquer sentimento inesperado. Os dois evitavam criar expectativas, mas afogavam-se em ilusões toda vez que os olhos eram fechados e o coração aberto.
Os dois se amavam e se correspondiam.
Depois de dois casamentos fracassados e tantos relacionamentos que não chegaram a durar um mês, o que ele podia saber sobre o amor? Depois de tantos anos andando por ai, acompanhado a evolução do mundo, vendo todos os tipos diferentes de amor, ele nunca aprendera a amar? Nenhuma de suas várias experiências lhe mostrou que amor não é programado para acontecer em somente um período da vida. Ninguém lhe falou que o amor não escolhe hora, não escolhe década, não vê as diferenças. O amor acontece. O amor vem e fica. Ele riu dessa ironia. Não foi nenhuma das suas ex-esposas que lhe ensinou isso, não foi nenhuma mulher de idade próxima a sua, mas sim, uma garota muito mais nova. 
Mesmo com os olhos pesados, ele se sentia mais acordado do que nunca. Abriu a janela e deixou o vento entrar, tomando conta do espaço e fazendo a voz dela ecoar pelas paredes. Fazia meses desde a sua partida. Ele desistiu de tudo, desistiu dela. Foi fazer o certo, mas a solidão não lhe caía bem e ele se sentia errado. Foi atrás de paz, mas não havia paz nas vozes que lhe seguiam como a própria sombra. 
As lembranças daquele dia tomaram conta da sua mente e ele reviveu a conversa que tiveram.
 - Esquece os outros! Sobre o que eles sabem? Do que eles entendem? Eles não conhecem a gente. - ela disse, entrelaçando os dedos nos dele e segurando firme a sua mão. - Esquece a tal conta de diferença. Os números não vão mudar. Eles só continuaram sendo nossos inimigos se você deixar. 
Ele abaixou a cabeça e soltou uma breve risada, fruto de seu desespero. 
- Eu nunca gostei de matemática. - ele voltou a encara-la, compartilhando do mesmo olhar triste que o dela. - O resultado da nossa subtração não vai sumir. Não podemos ignorar isso e acreditar que os problemas vão estar resolvidos. 
- Você quer resolver uma conta? - ela perguntou alterando a voz. - Que tal essa: Eu - Você = infelicidade, agonia, saudade, solidão. O resultado não é positivo de todo o jeito. 
Faltava algumas horas para o amanhecer. Ainda não tinha sinal de sono nenhum em seus olhos e agora ele não conseguiria mais dormir sem resolver algo. Algo que não poderia esperar até o nascer do sol. Uma chama reacendeu dentro de si e ele sentiu algo que há muito tempo tinha o abandonado. Esperança.
A campainha tocou, surpreendendo-a. Ela não estava esperando por ninguém essa hora da madrugada. Por sorte não estava dormindo. Depois de tantas tentativas em vão de pegar no sono, ela desistiu e foi ler um livro. Soltou o cabelo que estava preso em um coque mal feito, correu até a porta e olhou pelo olho mágico quem era. Seus olhos se arregalaram e seu coração acelerou, batendo tão apertado que começou a lhe faltar o ar. 
Ela abriu a porta e os dois se olharam em silêncio, sem saber o que dizer ou fazer. Ela estava surpresa com a visita dele e ele estava aliviado por finalmente vê-la. Ambos parados ali, um na frente do outro, era como se nunca tivessem se separado. 
- O que você está fazendo aqui? - ela perguntou com a voz falha, quebrando o silêncio.
- Eu precisava ver você.
- Faz seis meses desde...- ela parou, engolindo um seco. 
- Eu sei. 
- Por que só agora?
- Porque só hoje eu descobri algo muito importante.
Ele deu um passo para frente, acabando com o espaço que separava os dois. 
- O que? 
Aquela aproximação a pegou desprevenida, criando uma intensidade tão forte que era impossível desviar o olhar dos olhos dele. 
- O amor reprovou em matemática. 
Ele respondeu simplesmente, abrindo um grande sorriso. Ela não esperou outra iniciativa e passou rapidamente os braços em volta do pescoço dele, sentido seus pés saírem do chão. Ele a rodopiou, encostando os lábios nos dela como se não restasse segundo nenhum para o despertador tocar.
 

Por Ridrya Carolin

domingo, 6 de abril de 2014

Impacto



Você fez de mim
uma bomba prestes a explodir
capaz de matar qualquer um que se aproximasse
Destruiria até a mim
quando o último segundo acabasse

Mas a sua imunidade
conhecia o meu impacto 
e nem propositadamente
eu poderia te causar algum mal
Eu te ensinei a se proteger 
do meu radiativo material

Não há cura
para o veneno que me lançou com o olhar
Eu não via maldade
não tinha noção da gravidade
Você me fez incrédula
e agora não vejo mais em lugar nenhum
bondade

Eu só quero acordar de consciência limpa
e de coração consertado
Quero ter a memoria falha
esquecer que fomos íntimos 
e fingir que você nunca viu
as cores da minha áurea.

Por Ridrya Carolin