segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A única


Cansa, sabia? Cansa ser a única. 
A única que olha com os olhos cheios de ternura, que sorri com uma alegria contagiante no rosto, que passa a mão acariciando seu ombro enquanto você dirige. Cansa ser a única que não consegue te esquecer nem por segundo, que anda pelas ruas e do nada lembra da cor dos seus olhos, que sonha dormindo ou acordada com a luz do seu sorriso. A única que vai dormir pensando se você ainda está mexendo no celular e acorda querendo saber se você também já acordou. A única que se preocupa com as suas crises hipocondríacas, que fica se perguntando se aquela gripe já sarou ou aquela dor no peito já passou. Cansa tentar em vão te banir da minha cabeça. Te difamar para aquela amiga mais próxima e ainda sim não conseguir me convencer de cada palavra bem entonada. Ouvir aquela música idiota que toca toda hora na rádio e imaginar os pequenos detalhes de nós dois. Cansa não querer ser tão fácil, não conseguir te dizer um não, não saber ser indiferente, não dar as costas e te ignorar. Cansa te olhar nos olhos e sorri automaticamente, segurar sua mão e entrelaçar nossos dedos, brincar com o seu cabelo e continuar afagando fio por fio. Cansa ser a única a perder o controle, a não conseguir se segurar. A única que sente saudades na maior parte do tempo, que quer te ver toda hora, que tem ciumes de qualquer outra garota que chame sua atenção, que tem um medo incontrolável de te perder. A única que demonstra gostar, que expõem cada sentimento inesperado, que faz do seu nome a palava mais bonita a ser dita. A única que admite, que se surpreende, que valoriza, que se sente a garota mais sortuda do mundo ao seu lado. A única que te quer por perto até quando me faz chorar, que pede desculpas depois de uma briga infantil, que te beija e implora sempre por mais. A única que se entrega por inteiro e não pede nada em troca. 
Cansa ser a única que ama.
Mas o que me cansa ainda mais é não ser a única. 
Não ser a única que acordar com uma mensagem sua de bom dia. Cansa não ser a única que é amiga dos seus amigos, que é introduzida no seu ambiente particular, que conhece a sua família. Não ser a única que recebe seus carinhos, que se acomoda nos seus braços, que senta no seu colo, que recebe um elogio e se irrita com uma brincadeira boba. Não ser a única que você vai buscar em casa, que senta do seu lado no carro e canta com você uma música que gostamos. Cansa não ser a única que você implica, briga, se distancia e depois volta. Não ser a única que você vai atrás, que te desperta ansiedade e medo, que te provoca vontade de se arriscar e fazer pouco do perigo. Não ser a única que você bagunça o cabelo, aperta os ombros, que prende por trás para fazer surpresa, que dar um abraço apertado nos momentos mais inesperados, que dar uma beijo longo e apaixonado antes da despedida. Cansa não ser a única a deitar ao seu lado e dominar todo espaço dos seus olhos, a ouvir sua voz sussurrando coisas intimas no ouvido, a te fazer cosquinha na barriga e morder seu pescoço. Cansa não ser a única que você tem saudades, que você gosta, que você quer sempre por perto. Cansa tanto não ser a única a ter sua atenção, seu coração, seus pensamentos. 
Cansa não ser a única que você ama. 

Por Ridrya Carolin 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Dito Cujo



É um jogo tão injusto insistir no tal do Dito Cujo.
Ele continua sorrindo, olhando e desviando, mas nunca transparece as coisas que por dentro acontecem. Ele convence tão facilmente de que nada ver, nada sabe, nada sente.
Numa hora ele é alguém. Alguém que vira meu mundo de ponta cabeça, que me faz perder a noção do tempo, que me faz esquecer o antes e parar de questionar o depois.
Na outra hora não é ninguém. Ninguém que valha meu tempo, meus pensamentos, essas falas desperdiçadas, essas pretensões idiotas, inúteis e invisíveis a olho nu. 
Quem é ele? E o que quer e planeja? Faço-me frequentemente tantas perguntas que fiz do rosto dele uma incógnita a assombrar minhas certezas, crenças e vontades mais inusitadas.
São duas pessoas fundidas em uma só. Tem o cara dos olhos claros, sorriso simpático, voz leve e serena. Atencioso, descontraído e extremamente carinhoso. Ele é o cara que me faz querer continuar a descobrir outros conceitos e ficar movendo as peças desse tabuleiro de outro jeito.
E tem o Dito Cujo. A versão mal feita do cara que eu gostava. Ele me engana, mente sem culpa, dá em cima da minha amiga na minha frente e depois me trata como quarta opção ou até mesmo me esquece no banco do carona. 
Eu sou apenas a coadjuvante na sua história? Aquela que aparece para te distrair enquanto a atriz principal está perdida por ai? 
Eu disse que não era ingênua e nem mal informada, mas ele consegue fazer de mim uma boba sem malícia das coisas que acontecem quando ele apaga a luz e entorpece. 
O Dito Cujo numa hora vai, na outra volta. No sábado me esquece, na segunda me adora. De manhã conversa o dia inteiro, de noite desaparece. No começo costumava me chamar de moça da qual gostava, agora malmente me olha. 
O Dito Cujo é alter-ego dele que destrói em mim partes entrelaçadas de nós dois.
E eu continuo parada. Apenas esperando para dar o próximo passo e na minha frente só tem abismo. Restam-me duas opções: continuar contornando as beiradas de uma relação já condenada ou me atirar de vez, antes que eu me esqueça e tudo sobre mim desapareça. 
Quando tudo acabar, o Dito Cujo vai lembrar da menina que se atirou em queda livre para ser livre de toda essa droga.
Ele não irá mais vê-la como antes, ela já não tem os mesmos olhos.
Não irá mais entender seu sorriso, ela mudou de contexto e fórmula.
Não irá mais reconhecer sua voz, ela mudou de língua e entonação.
Ele irá querer a sua versão de antes, mas ela apenas sabe ser seu alter-ego.
É injusto continuar brincando de ser um tipo de Dito Cujo, mas é viciante ser uma nova versão tão desentrelaçada da minha versão passada.
O que me ensinam, eu aprendo. Eu gravo, incorporo, aprimoro. E o que para os outros é relativo, para mim é sempre permanente. 

Por Ridrya Carolin