quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Dito Cujo



É um jogo tão injusto insistir no tal do Dito Cujo.
Ele continua sorrindo, olhando e desviando, mas nunca transparece as coisas que por dentro acontecem. Ele convence tão facilmente de que nada ver, nada sabe, nada sente.
Numa hora ele é alguém. Alguém que vira meu mundo de ponta cabeça, que me faz perder a noção do tempo, que me faz esquecer o antes e parar de questionar o depois.
Na outra hora não é ninguém. Ninguém que valha meu tempo, meus pensamentos, essas falas desperdiçadas, essas pretensões idiotas, inúteis e invisíveis a olho nu. 
Quem é ele? E o que quer e planeja? Faço-me frequentemente tantas perguntas que fiz do rosto dele uma incógnita a assombrar minhas certezas, crenças e vontades mais inusitadas.
São duas pessoas fundidas em uma só. Tem o cara dos olhos claros, sorriso simpático, voz leve e serena. Atencioso, descontraído e extremamente carinhoso. Ele é o cara que me faz querer continuar a descobrir outros conceitos e ficar movendo as peças desse tabuleiro de outro jeito.
E tem o Dito Cujo. A versão mal feita do cara que eu gostava. Ele me engana, mente sem culpa, dá em cima da minha amiga na minha frente e depois me trata como quarta opção ou até mesmo me esquece no banco do carona. 
Eu sou apenas a coadjuvante na sua história? Aquela que aparece para te distrair enquanto a atriz principal está perdida por ai? 
Eu disse que não era ingênua e nem mal informada, mas ele consegue fazer de mim uma boba sem malícia das coisas que acontecem quando ele apaga a luz e entorpece. 
O Dito Cujo numa hora vai, na outra volta. No sábado me esquece, na segunda me adora. De manhã conversa o dia inteiro, de noite desaparece. No começo costumava me chamar de moça da qual gostava, agora malmente me olha. 
O Dito Cujo é alter-ego dele que destrói em mim partes entrelaçadas de nós dois.
E eu continuo parada. Apenas esperando para dar o próximo passo e na minha frente só tem abismo. Restam-me duas opções: continuar contornando as beiradas de uma relação já condenada ou me atirar de vez, antes que eu me esqueça e tudo sobre mim desapareça. 
Quando tudo acabar, o Dito Cujo vai lembrar da menina que se atirou em queda livre para ser livre de toda essa droga.
Ele não irá mais vê-la como antes, ela já não tem os mesmos olhos.
Não irá mais entender seu sorriso, ela mudou de contexto e fórmula.
Não irá mais reconhecer sua voz, ela mudou de língua e entonação.
Ele irá querer a sua versão de antes, mas ela apenas sabe ser seu alter-ego.
É injusto continuar brincando de ser um tipo de Dito Cujo, mas é viciante ser uma nova versão tão desentrelaçada da minha versão passada.
O que me ensinam, eu aprendo. Eu gravo, incorporo, aprimoro. E o que para os outros é relativo, para mim é sempre permanente. 

Por Ridrya Carolin  

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