quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Meu encantamento


Ninguém precisa saber 
que por você 
eu adiei minha volta
e que andei por aí
só pra ver se te encontrava 
mas como sempre
não tinha nada pra ver

Ninguém precisa saber 
que naquela noite eu não dormi
e aos prantos, eu amanheci
Com a ideia errada 
de que eu era a culpada 
por não ter dito nada 
quando ela te pediu para deixa-la em casa

Eu fui quem eu não era pra ser
quando quis te conhecer
naquela madrugada 
da semana passada
E mesmo sem convite 
Te fiz de convidado 
e te dei um espaço no banco ao meu lado
Você se sentou com a ideia errada 
de que eu ficaria apaixonada 
só com um segurar de mãos 
e com seu jeito brincalhão

Eu vi tanto fascínio
na bagunça que ficou o meu quarto
quando você entrou 
e deixou todos os livros revirados no armário
Seu cheiro exalando o encanto
que eu te roubei 
enquanto você me beijava 
pela cantos da cidade a meia luz

É que faz parte do sofrimento
lembrar de certos momentos
em que eu sorri
e calei o silêncio
com uma risada mal interpretada
de fatos que com você nunca vão acontecer
É que talvez nunca foi e nem era pra ser

Ninguém precisa saber
que um dia você se foi 
e no seu lugar apareceu um cara
que não queria nada com nada
que tentou beijar a tal garota na volta pra casa
e no dia seguinte contou mentiras ensaiadas 

Foi quando eu vi 
que tinha sido enganada 
Você me apresentou a versão errada
de um cara brincalhão
que fugiu achando que eu estava apaixonada

Mas você não precisa saber
que eu me virei do avesso
há bastante tempo
e esse meu novo lado
não cria sentimentos
Mata e devora do jeito mais lento
Foge antes ser pega por um envolvimento

Você não precisa saber
que a moça de sorriso fácil 
e batom escuro nos lábios 
deixou o coração de luto
por tempo indeterminado
e pretende cumprir o prazo
que já não é mais válido

É que faz parte do meu encantamento
Te fazer lembrar de certos momentos
em que você me viu sorri
e achou que eu era sua
entre os beijos e o silêncio
da minha risada mal interpretada 
de fatos que com você nunca vão acontecer
É que, na verdade, eu e você
Nunca fomos e nem vamos ser. 

Por Ridrya Carolin

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Temporada de caça


Ontem eu ouvi o som do meu coração se quebrando. A rachadura foi se abrindo da maneira mais lenta, dolorosa e depois se partiu de vez num baque ensurdecedor. Quando o barulho se tornou inexistente, eu soube que mais uma temporada de caça tinha começado e não havia previsão para terminar. 
O prêmio seria do caçador que conseguisse matar o animal mais difícil de ser encontrado. 
A mudança repentina da estação me pegou de surpresa. Eu não estava esperando uma nova temporada de caça tão cedo. Não vi nenhum cartaz pelas ruas, nenhum anúncio no jornal, nenhuma propaganda no rádio. Eu apenas dormi de janela trancada e na manhã seguinte já estava correndo risco de vida. 
Ignorei os avisos de cuidado, descobri os esconderijos das chaves e atravessei a esquina, desarmada. Na última temporada de caça, um dos poucos que podiam me ver quase me matou numa só flechada. Mas eu fugi para longe, fiquei fora de alcance e ele errou a mira. Depois de tanto tempo, de quase ser pega, como eu ainda tinha coragem de caminhar ao lado do perigo? Qual era o sentindo daquela vontade doentia por atenção e pretensão? Os animais mais ferozes tendem a desafiar as circunstância. Não sei se é pela necessidade de provar algo para si mesmo ou se é uma forma estúpida de camuflar a vulnerabilidade. 
Vi seus olhos em mim certa vez, atentos e perfeccionistas. Não se intimidou pela minha aparência ávida, não desviou o olhar, não se distraiu com o que havia do outro lado. Eu fiquei me perguntado, o que você enxergava? Só mais uma garota sonhando acordada ou se via alguém andando nas pontas dos pés na beira do abismo?  Em silêncio, eu torcia para que você visse alguém tentando chegar ao outro lado da cordilheira. Alguém que cansou de fugir e agora queria ser encontrada o mais rápido possível. 
Quanto mais perto eu chegava, mais perto eu queria. Quanto mais eu ouvia, mais eu queria a voz ao pé do ouvido. Quanto mais eu via, mais eu gostava do que meus olhos registravam para mais tarde eu me lembrar de novo e de novo. Quanto mais eu andava, mais eu implorava para o abismo não está tão á frente. Quanto mais eu pensava no fim, mais ciente eu ficava de que nunca pôde haver um começo. 
Preciso tomar cuidado com a realidade. Ela anda se misturando com as fantasias da minha mente errante. 
Pensei ter ouvido você gritar meu nome no portão hoje cedo enquanto eu escrevia. Pensei que você tinha me visto dançar Beatles pela sala naquele pijama feio que uso todo dia. Pensei que você tinha entendido o segredo por de trás do meu sorriso quando sorri de volta pra você sem intenção.
Eu estou condenada a ficar parada no meio do nada em plena temporada de caça. Sentada no gramado, olhando para cima e esperando ser encontrada. Não estou preocupada com o perigo, não tenho medo da morte súbita. Hoje, eu só quero que a realidade não seja tragicamente real. Hoje, eu só quero que a realidade apenas seja. Seja o que tiver, seja o que aconteça. Quero que hoje, eu e você, a realidade, o medo, o perigo, a matança, o prêmio...apenas seja e, se possível, permaneça.

Por Ridrya Carolin