domingo, 8 de março de 2015

O reencontro


Eles ainda vão se reencontrar. Pode ser por um encontro marcado, uma coincidência, obra do destino ou apenas o acaso. Eles vão se olhar com o mesmo carinho de antes e sorrir um para o outro para disfarçar o nervosismo. O silêncio vai prevalecer nos primeiros instantes, algo tão incomum para duas pessoas que já compartilharam algo tão íntimo. Ele, com seu jeito descontraído e falante, vai ser o primeiro a puxar conversa. Ela, com seu jeito tímido e gentil, vai responder tudo da forma mais sincera possível.
O tempo havia passado, a vida mudado de tantas maneiras imprevisíveis, mas eles ainda se conheciam pelo olhar. Ele ainda era altruísta e brincalhão, um moço de sorriso fácil, de papo maleável, coração ingênuo e cheio de arrependimentos. Ela continuava aquela moça fechada, de poucos amigos, uma romântica já tão machucada e uma sonhadora desencantada com a realidade que vivera, mas ainda sim, ela era viva, dona de um coração forte e cheio de esperanças.
Nenhum dos dois conseguia se lembrar do exato momento em que o caso deles acabou. E acabara sem nem ao menos começar. Não sabia se a culpa fora das escolhas dele, dos medos dela, da distância que se pôs entre os dois, das fofocas alheias, das reviravoltas do mundo ou dos vários desencontros da vida. Talvez o culpado fosse ele, que se deixou ser influenciado pelos amigos e não abriu mão da vida idealizada de solteiro. Talvez a culpa fosse dela, que se envenenou com o próprio orgulho e não foi atrás dele. Talvez a culpa fosse dos dois, que calaram os sentimentos dentro do peito e adotaram uma postura oposta, ao que de fato queriam, na frente um do outro e na dos demais. 
Mas, agora, parados num canto da festa conversando, qualquer um podia ver a conexão entre eles. O brilho nos olhos dele, a felicidade no rosto dela. Eles se amavam, mas ninguém, nem mesmo eles, acreditavam que poderia dá certo. Talvez pelas atitudes dele, talvez pela indiferença dela, talvez pelo rancor dos dois. Ela queria ser amada, ele queria ama-la. Ela queria uma atitude dele, ele queria uma garantia dela. Ela teria voltado, se ele tivesse pedido. Ele teria escolhido ela, se ela tivesse perguntado. Eles estariam juntos, se não fosse pelo silêncio. 
Eles são mais que amigos e muito menos que namorados. Para alguns são meros ficantes; para outros são quase amantes. Eles pensam diferente, mas agem igual. Eles se respeitam, mas não se compreendem. Eles são loucos um pelo outro, mas desistem na primeira discussão que vem a tona. Eles se calam um para o outro, mas dão ouvidos as opiniões de terceiros. Ela se lembra dele ao ver na prateleira um livro de autoajuda; ele se lembra dela quando ler poesia. Ela pensa nele ouvindo uma moda sertaneja; ele pensa nela ouvindo MPB. Ela olha a vista da cidade grande pela sacada se perguntando se ele está feliz; ele para o carro numa praça abandonada da cidade pequena se perguntando se ela conseguiu realizar tudo que queria. 
E assim eles vão levando a vida. Pensando cada vez menos um no outro a cada dia, mas sentindo cada vez mais saudade do que não viveram a cada noite. Eles ainda são cheios de vontade, cheios de necessidade, de desejo e saudade. Ela ainda enlouquece com o timbre sedutor da voz dele; ele ainda entra em delírio com a mordida de lábios dela. Eles ainda se atraem pelo cheiro, pelo contato da pele, pelo ar ofegante, pelo grito de satisfação, pela exigência de um depois. 
Vai ser num dia simples, numa festa na casa dos vizinhos, numa reunião de velhos amigos, num churrasco no sábado a tarde. Ele vai chegar antes de todo mundo para cuidar da organização e ela vai chegar atrasada graças ao seu falho senso de hora. Ele vai enxergá-la logo do portão e ela vai demorar um pouco para vê-lo entre a multidão. Ele vai dizer oi para uma velha amiga e ela vai abraça-lo como se nada tivesse mudado. E no breve momento em que tudo que os envolve for recíproco, vai ficar evidente que, aquela velha chama que ficara adormecida, nos olhos um do outro se reacendia. Sempre estivera viva. Sempre se pertenceram.
Mas quando se trata deles não existem certezas, possibilidades, expectativas ou futuro. Quando se trata deles o que tiver de ser, será.

Por Ridrya Carolin 

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