domingo, 2 de outubro de 2016

Na sua estante


Eu tô cansada. 
Tô exausta, dolorida, de saco cheio de tudo. De você, da sua bipolaridade, da sua indecisão, da sua criancice, do seu jogo. Tô cansada de ficar aqui tentando me bastar com o pouco que você me dá.  Tendo que te dividir com as outras ao mesmo tempo em que sei que não dá pra dividir o que não se tem.
Eu te deixei mal acostumado. 
Eu já comecei fazendo tudo errado e agora já não pode mais dar nada certo. Eu entrei no teu jogo, joguei do seu jeito, segui as suas regras. Deixei de lado as minhas próprias regras, as minhas táticas, a minha lógica, o meu pensamento formado. Eu abri uma exceção para essa confusão que é nossa relação. Eu me empenhei, eu fui paciente, tolerante, diferente do meu comum. 
Eu mudei de forma para me encaixar em você, e talvez tenha sido esse o meu maior erro. Eu te mal acostumei a me ter na hora que quiser, a me encontrar sempre que precisa de um momento além do físico, a voltar sempre que a noite agitada não consegue te satisfazer. Eu te ensinei a me ter, a me conquistar, a me domar. Eu te dei a formula secreta para me driblar, te contei onde fica a chave que abre meu coração, te passei a receita de como me fazer de trouxa com meu consentimento. 
Você me tem na sua estante. Tira, pega, usa, brinca a hora que quer. E guarda, esconde, esquece a hora que enjoa. Mas nunca me joga fora mesmo quando me muda de lugar, nunca se livra, nunca se desfaz. Você faz total questão de me ter ali, debaixo da tua vista, dentro da tua vida, envolta as tuas coisas. 
Eu sou a garantia do teu seguro. Você dorme tranquilo, anda por toda a festa despreocupado, some por uns tempos sem ligar pro tempo. Pra você, eu tô quieta na estante e de lá não saio.
Mas eu me cansei. 
Eu não sou de ferro, caramba. Eu aguento muita porrada, mas também desabo. Eu aceito tá perdendo o jogo e continuar insistindo, mas também me canso. E, felizmente, também sei me aceitar quando desisto. E tô precisando fazer isso. Acabar com tudo antes que tudo me acabe. Saí do jogo antes que eu me vicie, antes que eu também me acostume mal e passe a me bastar dessa vida de migalhas que você me dar, antes que eu fique presa na tua forma e perca de vez a minha. 
Você nunca esteve interessado em ganhar a mim, você queria ganhar de mim. Queria ganhar seu jogo. Então, dessa vez, eu decidi te dar a partida de mão beijada. E não só a do jogo, mas também a minha partida. 
Meu bem, desculpe a falta de educação, mas vá brincar sozinho ou arrume um novo brinquedo. Eu me mudei da sua estante. Eu voltei para bagunça do meu quarto. É muito melhor estar aqui sozinha e perdida em mim do que continuar sozinha e perdida em você.
O seu grande problema é que, pra você, eu só me torno interessante quando, pra mim, você já não é mais importante. 


Por Ridrya Carolin 

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