terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O farol


Eu estava procurando alguma foto para postar no seu aniversário nessa quarta-feira e entre as milhares que nós tiramos nesse pouco tempo em que nos tornamos amigas, eu achei a primeira foto que tiramos juntas.
Naquela época eu mal te conhecia e acho que até então nunca tínhamos parado para conversar de verdade. 
Eu fiquei ali parada olhando aquela foto por uns longos minutos. Nós duas abraçadas no sofá (pelas nossas roupas, devia estar bem frio) numa reuniãozinha só de meninas na casa de uma delas. Íamos fazer pastel, brigadeiro e dançar daquele jeito que não dançamos de jeito nenhum na frente dos outros. 
Então, eu me lembrei de como tudo começou. 
De como nós começamos. 
De como você entrou na minha vida e de como muita coisa mudou desde aquela noite fria de abril. 
Eu estava numa fase difícil, num momento complicado, com o coração machucado e a cabeça bagunçada. 
Na festa passada, eu voltei pra casa mordendo os lábios com força para não chorar na frente dos outros, mas acho que não deu muito certo, eu nunca fui boa de esconder o que eu sinto de todo jeito. No dia seguinte, você me mandou mensagem perguntando se estava tudo bem e eu disse que estava (eu menti, é claro!). Eu até fiquei bastante surpresa com a sua mensagem, afinal não eramos amigas ainda. 
Mas acho que esse foi o estopim. 
Foi o primeiro feixe de luz vindo do farol que é você.
Na noite daquela foto, eu não queria sair de casa, não queria ver ninguém, mas acabei indo. Você estava fritando os pasteis na beira do fogão quando eu cheguei perto e fiquei ali quieta. Acho que devia estar estampado na minha cara que eu não estava nada bem ou desde aquela época você já sabia ler minhas expressões. 
Você ouviu tudo que eu falei. Eu te contei tudo que aconteceu, tudo que eu sentia. Você ainda era uma estranha pra mim e mesmo assim eu nunca tinha sentindo tanta segurança ao falar com alguém. Eu desabafei, joguei pra fora tudo que tava preso dentro de mim há bastante tempo. Você me aconselhou, me deu colo, me deu casa. 
Eu estava tão perdida. Acho que tudo que eu precisava era alguém pra conversar, pra confiar. Eu me sentia sozinha. Era uma cidade nova com pessoas desconhecidas, garotas malvadas e garotos babacas. Você me ensinou a ser forte, me ensinou a não ligar para opinião dos outros, a acreditar mais em mim. Me mostrou que fazendo ou não, as pessoas maldosas sempre vão falar, inventar, julgar. 
Eu estava no escuro e você foi minha luz. 
Você foi meu farol. 
Faz pouco tempo, mas a amizade que construímos é tão forte que deixou o próprio tempo para trás. O amor que eu sinto por você é tão seu que eu sorrio o teu sorriso, eu choro as tuas lágrimas, eu ganho as tuas conquistas, perco as tuas derrotas, odeio quem te odeia e machuco quem te machucar. 
Eu viro dor só pra fazer companhia para tua solidão. 
Eu viro luz só pra não te deixar no escuro. 
Eu viro espelho só pra te fazer enxergar a parte de você que já faz parte de mim. 
Eu viro casa só pra te abrigar sempre que o temporal levar as telhas do teu coração embora. 
Acredite, se um dia eu te magoar ou der alguma mancada, nunca será com a intenção de te fazer sofrer, nunca será de propósito. Eu sou incapaz de fazer mal as pessoas que habitam meu coração, porque esse meu coração {com aconchego de casa e já tão entregue aos seus moradores} também sofre a tua dor de maneira tão plena e intensa que bate por mil de uma vez só. 
Eu sei que o tal do "eterno" as vezes prega a peça na gente, muda nossos planos, nossa direção, tira, coloca e devolve pessoas nas nossas vidas o tempo inteiro. Se depender de mim, eu te quero para sempre do meu lado, mas caso o acaso (que primeiramente nos juntou) nos ponha em mundos diferentes no futuro, eu quero que você saiba que o meu amor será eterno até o último momento enquanto durar.
A aniversariante é você, mas quem ganhou o presente fui eu. Eu ganhei uma anjinha rabugenta, grossa, mandona, que tem mania de dançar olhando pra cima, grita do nada e sempre enche meu saco. E, ainda sim, é um anjo que me cuida, me anima, me fortalece e me ama. 
Talvez seja esse o ponto chave da nossa amizade, perto de você eu me sinto verdadeiramente amada. 
Numa noite qualquer, de um dia comum do mês de abril, você apareceu quando eu menos esperava e acabou sendo o que eu mais precisava. 
E, desde então, eu nunca mais fiquei no escuro. 

PS: "O farol significa uma luz, uma direção a seguir, o caminho do bem que guia o homem na vida."

Para ler ouvindo: Jessie J - Flashlight

Por Ridrya Carolin 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Alguém como você


Você disse que eu ia me apaixonar de novo. 
Depois de uma crise de choro longa e dolorida, de uma serie de desabafos sendo jogados do coração boca a fora e do meu desespero roubando o ar dos pulmões, eu deitei a cabeça no seu ombro. E ficamos ali em silêncio debaixo da madrugada, sentados no banco em frente a sua casa, olhando a rua sossegada.
Você esperou eu me acalmar, jogar tudo que deixei preso aqui dentro por tempos, esvaziar a cabeça pra pensar com clareza e finalmente me calar para me dizer que eu ia me apaixonar de novo. 
Mas não desse jeito bagunçado, castigado e maldoso. Não com meu coração sempre sendo posto a prova de fogo e beirando a morte ao se queimar nessa brincadeira de "quem se entregar primeiro, apanha". Não com o meu gostar sendo desvalorizado e submisso de pouca coisa, de uma meia atenção, de um romance meio bosta, perdido num meio sem fim nem começo. 
Não. Não seria mais esse tipo de paixão. Que, afinal, de paixão não tinha nada, passava longe do pré-destinado, do esperado, do surpreendido. Era mais uma prisão disfarçada de paixão, de contragosto com um leve toque de bem-me-quer. 
Você me disse que isso não era estar apaixonada porque não tem como se apaixonar por quem não te faz bem pelo menos 23 horas por dia, por quem não te faz sorrir durante um beijo, por quem não afaga teu cabelo por carinho, por quem não te escolhe, por quem não te faz ser única. 
Amor sem reciprocidade não é amor, é tortura. Paixão que só faz efeito para um não te torna um apaixonado, te torna um prisioneiro. 
Seja lá o que fosse isso que eu sentia, eu não queria de novo nunca mais na vida. Mas você continuava a insistir que sim, eu iria me apaixonar de novo. 
E seria diferente. 
Por alguém diferente.
Você disse que um dia eu iria encontrar alguém que me levaria para tomar um café e conversar sobre coisas avulsas, igual como fizemos na sexta passada enquanto discutíamos o final de How I Met Your Mother ( que, de acordo com você, foi épico, já pra mim foi uma bosta). Alguém que não me procura durante a semana de prova porque sabe que eu não existo pra ninguém além dos estudos, mas que é o primeiro a me mandar mensagem quando a semana acaba sobre qualquer assunto que não sejam as provas, exatamente como você faz. Alguém que conta o troco pra mim sem eu pedir, porque sabe que meu cérebro não funciona quando tem números envolvidos e, claro, que vai me xingar de burra toda vez que isso acontecer igual como você faz. 
Você disse que eu iria me apaixonar por alguém que tem toda a paciência do mundo comigo quando entro numa livraria e fico mais de três horas andando entre os livros, igual como você faz quando fica olhando a seção de CDs para passar o tempo enquanto me espera. Alguém que me acha a garota mais estranha do mundo quanto to sentada no sofá e do nada começo a rir sem parar, igual como você faz quando enche meu saco querendo saber o motivo da minha risada. Alguém que me liga só pra falar do vídeo que o amigo idiota mandou e que passa mais tempo rindo na ligação do que falando alguma coisa concreta, do jeitinho que você faz quando acha algo engraçado. Alguém que note alguma diferença entre mim com 15 anos e com 20 já que todo mundo insiste em dizer que eu não mudei nada, igual como você notou que meu rosto afinou e meu cabelo deu uma escurecida. Alguém que consiga até mesmo mudar minha cabeça, como você fez sobre a minha opinião de caras com tatuagens grandes igual a que você tem no antebraço.
Você disse que não teria como eu não me apaixonar por alguém que me fizesse dançar no meio pátio "There is a Light That Never Goes Out" do The Smiths, como você sempre faz nas festas aqui em casa quando essa música toca na seleção do seu pen-drive. Por alguém que vem cantando no carro comigo durante todo o caminho músicas dos anos 80 porque sabe que eu não me aguento ouvindo um rock antigo, como você faz quando deixa de lado seu sertanejo brega só para me ver dando uma de cantora. Por alguém que sempre lembra de mim quando aparece aquela mocinha de tal filme, igual como você faz toda vez que insiste em dizer que aquela personagem babaca da Lily Collins em "Ligados pelo Amor" sou eu em vida ou que tem alguma coisa na Aria de Pretty Little Liars que parece demais comigo ( isso porque você jura de dedinho que não assiste essa serie de mulherzinha, mas eu tenho minhas dúvidas a esse respeito).
Você me prometeu que eu iria me apaixonar por alguém que durante todos os momentos, iria me fazer sorri aquele meu sorriso bobo que não se mostra muito na frente dos outros, mas que sempre aparece quando você está perto. Alguém que iria fazer eu me sentir bem, simplesmente bem só por estar bem. Bem por inteiro, bem por estar em paz, bem por ser eu mesma. Alguém que não me faça de opção, me faça de escolha. Me faça exclusiva, especial e única do jeito em que eu sou para você.
Você disse que eu iria me apaixonar por alguém que fosse tipo um melhor amigo, como você acabou se tornando depois daquele desastre que foi o dia em que nos conhecemos.
Eu levantei a cabeça do seu ombro e te olhei. Você parecia tão certo do que dizia, que sem querer eu acreditei. 
Mesmo depois de alguns anos, eu ainda me pegava pensando em tudo que você me disse naquela noite com tudo que eu já tinha vivido de lá pra cá. 
E você estava errado. 
Eu não me apaixonei de novo.
Pela primeira vez, eu me apaixonei de verdade. 

PS: Sabe, talvez desde aquela noite eu já fosse apaixonada de verdade. Mas acho que meu amor estava confuso e dando atenção para pessoa errada. E, confesso, eu sempre amei essa tatuagem de leão no seu antebraço (que pra você significa força e coragem).
Ah, antes que eu pareça totalmente injusta, sobre uma coisa você estava certo: não tinha como eu não me apaixonar por alguém como você.


Por Ridrya Carolin