domingo, 11 de dezembro de 2016

Alguém como você


Você disse que eu ia me apaixonar de novo. 
Depois de uma crise de choro longa e dolorida, de uma serie de desabafos sendo jogados do coração boca a fora e do meu desespero roubando o ar dos pulmões, eu deitei a cabeça no seu ombro. E ficamos ali em silêncio debaixo da madrugada, sentados no banco em frente a sua casa, olhando a rua sossegada.
Você esperou eu me acalmar, jogar tudo que deixei preso aqui dentro por tempos, esvaziar a cabeça pra pensar com clareza e finalmente me calar para me dizer que eu ia me apaixonar de novo. 
Mas não desse jeito bagunçado, castigado e maldoso. Não com meu coração sempre sendo posto a prova de fogo e beirando a morte ao se queimar nessa brincadeira de "quem se entregar primeiro, apanha". Não com o meu gostar sendo desvalorizado e submisso de pouca coisa, de uma meia atenção, de um romance meio bosta, perdido num meio sem fim nem começo. 
Não. Não seria mais esse tipo de paixão. Que, afinal, de paixão não tinha nada, passava longe do pré-destinado, do esperado, do surpreendido. Era mais uma prisão disfarçada de paixão, de contragosto com um leve toque de bem-me-quer. 
Você me disse que isso não era estar apaixonada porque não tem como se apaixonar por quem não te faz bem pelo menos 23 horas por dia, por quem não te faz sorrir durante um beijo, por quem não afaga teu cabelo por carinho, por quem não te escolhe, por quem não te faz ser única. 
Amor sem reciprocidade não é amor, é tortura. Paixão que só faz efeito para um não te torna um apaixonado, te torna um prisioneiro. 
Seja lá o que fosse isso que eu sentia, eu não queria de novo nunca mais na vida. Mas você continuava a insistir que sim, eu iria me apaixonar de novo. 
E seria diferente. 
Por alguém diferente.
Você disse que um dia eu iria encontrar alguém que me levaria para tomar um café e conversar sobre coisas avulsas, igual como fizemos na sexta passada enquanto discutíamos o final de How I Met Your Mother ( que, de acordo com você, foi épico, já pra mim foi uma bosta). Alguém que não me procura durante a semana de prova porque sabe que eu não existo pra ninguém além dos estudos, mas que é o primeiro a me mandar mensagem quando a semana acaba sobre qualquer assunto que não sejam as provas, exatamente como você faz. Alguém que conta o troco pra mim sem eu pedir, porque sabe que meu cérebro não funciona quando tem números envolvidos e, claro, que vai me xingar de burra toda vez que isso acontecer igual como você faz. 
Você disse que eu iria me apaixonar por alguém que tem toda a paciência do mundo comigo quando entro numa livraria e fico mais de três horas andando entre os livros, igual como você faz quando fica olhando a seção de CDs para passar o tempo enquanto me espera. Alguém que me acha a garota mais estranha do mundo quanto to sentada no sofá e do nada começo a rir sem parar, igual como você faz quando enche meu saco querendo saber o motivo da minha risada. Alguém que me liga só pra falar do vídeo que o amigo idiota mandou e que passa mais tempo rindo na ligação do que falando alguma coisa concreta, do jeitinho que você faz quando acha algo engraçado. Alguém que note alguma diferença entre mim com 15 anos e com 20 já que todo mundo insiste em dizer que eu não mudei nada, igual como você notou que meu rosto afinou e meu cabelo deu uma escurecida. Alguém que consiga até mesmo mudar minha cabeça, como você fez sobre a minha opinião de caras com tatuagens grandes igual a que você tem no antebraço.
Você disse que não teria como eu não me apaixonar por alguém que me fizesse dançar no meio pátio "There is a Light That Never Goes Out" do The Smiths, como você sempre faz nas festas aqui em casa quando essa música toca na seleção do seu pen-drive. Por alguém que vem cantando no carro comigo durante todo o caminho músicas dos anos 80 porque sabe que eu não me aguento ouvindo um rock antigo, como você faz quando deixa de lado seu sertanejo brega só para me ver dando uma de cantora. Por alguém que sempre lembra de mim quando aparece aquela mocinha de tal filme, igual como você faz toda vez que insiste em dizer que aquela personagem babaca da Lily Collins em "Ligados pelo Amor" sou eu em vida ou que tem alguma coisa na Aria de Pretty Little Liars que parece demais comigo ( isso porque você jura de dedinho que não assiste essa serie de mulherzinha, mas eu tenho minhas dúvidas a esse respeito).
Você me prometeu que eu iria me apaixonar por alguém que durante todos os momentos, iria me fazer sorri aquele meu sorriso bobo que não se mostra muito na frente dos outros, mas que sempre aparece quando você está perto. Alguém que iria fazer eu me sentir bem, simplesmente bem só por estar bem. Bem por inteiro, bem por estar em paz, bem por ser eu mesma. Alguém que não me faça de opção, me faça de escolha. Me faça exclusiva, especial e única do jeito em que eu sou para você.
Você disse que eu iria me apaixonar por alguém que fosse tipo um melhor amigo, como você acabou se tornando depois daquele desastre que foi o dia em que nos conhecemos.
Eu levantei a cabeça do seu ombro e te olhei. Você parecia tão certo do que dizia, que sem querer eu acreditei. 
Mesmo depois de alguns anos, eu ainda me pegava pensando em tudo que você me disse naquela noite com tudo que eu já tinha vivido de lá pra cá. 
E você estava errado. 
Eu não me apaixonei de novo.
Pela primeira vez, eu me apaixonei de verdade. 

PS: Sabe, talvez desde aquela noite eu já fosse apaixonada de verdade. Mas acho que meu amor estava confuso e dando atenção para pessoa errada. E, confesso, eu sempre amei essa tatuagem de leão no seu antebraço (que pra você significa força e coragem).
Ah, antes que eu pareça totalmente injusta, sobre uma coisa você estava certo: não tinha como eu não me apaixonar por alguém como você.


Por Ridrya Carolin 

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