quarta-feira, 18 de maio de 2016

O cara perfeito

 
Ele é o tipo de cara que toda mulher quer.
Manda mensagem pelo menos quatro vezes na semana, responde as fotos que eu mando no histórico do Snapchat, de um jeitinho tranquilo faz tudo que eu peço e nunca consegue ser grosseiro com as minhas grosserias.
Ele gosta das mesmas coisas que eu, sempre me elogia com cautela e aos seus olhos eu sou a mulher mais incrível e linda que ele já viu. Ele é estudioso e quando eu tenho uma dúvida, ele lê todas as suas anotações da aula passada só para saber me responder. E se eu dou uma brecha, ele arruma mil assuntos para conversarmos. Quando coloco sem querer minha mão perto da dele, ele sempre dá um jeito de sair de mãos dadas comigo pelo lugar. Ele escuta tudo que eu falo com atenção e dificilmente esquece de algo, diz que meu sotaque é gostoso de se ouvir e que o cheiro do meu cabelo é inconfundível.
Ele é o cara perfeito.
Ele me quer e não esconde isso de ninguém. Nem de mim e nem de si mesmo. Ele me procura, ele me quer por perto, ele quer me conhecer e quer fazer parte do meu dia-dia.
Ele é o cara que te pediria em namoro no terceiro encontro e talvez até levasse um buquê de rosas, te apresentaria não só para os pais mas para a família toda, faria de tudo para te agradar e pelo menos duas vezes ao dia você seria elogiada.
Sem dúvida, ele é o cara perfeito. O cara que você sempre sonhou, o cara que sua mãe quer de genro, o cara que seu pai não iria ter crises bobas de preocupação.
Ele é um cara de futuro e que te levaria junto com ele para o futuro. 
Ele poderia ser seu marido, o pai dos seus filhos, o amor da sua vida.
Afinal, ele é perfeito.
Mas há apenas um detalhe, insignificante para os outros mas de extrema importância para meu subconsciente, que faz com que ele não seja o cara para mim. O cara perfeito tem apenas um pequeno e irreparável defeito.
Ele não é você.
Quando eu acordo de manhã e vejo mensagens novas na tela do meu celular, eu espero que ao menos uma seja sua, mas nunca é. Sendo bem sincera, eu nunca tive paciência para mandar Snaps para todo mundo, então coloco tudo sempre no histórico, mas eu mando no privado para você. Só para você. Mas você abre e nunca me responde. Às vezes, quando eu tenho uma repentina coragem, te mando uma mensagem no WhatssApp, mas você nunca dá continuidade a conversa, então também não dou. Pelo menos uma vez ao dia, eu fico na frente da minha casa esperando para ver se você passa pela rua e eu tenha a sorte de te ver, mas eu nunca vejo.
Eu queria tanto fazer essas estúpidas coisas pelo cara perfeito. Ele, com certeza, faria tudo que você não faz e até fizesse mais do que eu espero de você. Mas eu me conheço bem o suficiente para saber que mais teimosa do que eu não existe na Terra. Eu não vou conseguir por o cara perfeito no seu lugar nem que eu queira, nem que eu tente. E talvez esse seja o maior problema. Eu nem ao menos estou tentando, não estou nem mesmo dando uma chance para ele me conquistar porque você já fez isso. Involuntariamente, eu já sou sua e por isso não posso ser dele.
Acho que todo mundo tem na vida aquela pessoa que é perfeita e mais perfeito ainda seria está com ela, mas parece impossível porque o coração já escolheu uma outra pessoa. E mesmo essa outra pessoa não fazendo nem metade das coisas que a outra faz, te dando só incertezas quando a outra só te dar atitudes e demonstrações, mesmo ela parecendo esquecer totalmente da sua existência quando tudo que a outra faz é se dedicar a você, você não consegue se livrar dela.
Não. Eu não consigo me livrar de você. E não é porque, de fato, eu não consiga, é porque eu não quero. Eu não quero outra pessoa, eu quero você. E se não for você, eu não quero. Eu não quero me imaginar amando outro alguém que não seja você.
Por mais que eu sabia, que eu esteja bem ciente de que minha vida seria muito mais fácil, meu amor seria correspondido e as chances de dá certo seriam bem maiores com o cara perfeito, eu não o quero. Não o quero porque pra mim ele não é perfeito.
Eu não o quero porque ele não é você.
 
Para ler ouvindo: One - Ed Sheeran

Por Ridrya Carolin

sábado, 14 de maio de 2016

Nosso tempo


 
Ele disse que precisava de tempo.
Tempo para pensar, para se encontrar, para arrumar toda essa confusão, para saber o que fazer com a sua indecisão.
E, claro, tudo isso não passava de uma desculpa barata para me tirar da cabeça, uma fuga rápida do notório saber da minha existência, um jeito imaturo de lidar com o nosso quase relacionamento.
Eu sei que você gosta de mim e você sabe que eu gosto de você. Nós dois não sabemos o que fazer, nós dois temos medo, estamos assustados, a procura de respostas, de uma solução, de um desesperado esquecimento. Estamos empatados, andando na mesma velocidade sem chegar em lugar nenhum e tomando as mesmas atitudes sem tomar providência nenhuma.
Você disse que precisava de tempo. Depois me afastou e foi embora. E eu fiquei sem saber o que fazer, então não fiz nada. Recuei e fiquei quieta no meu próprio tempo enquanto esperava pelo seu. Mal te vejo pelas ruas, mal nos falamos nesse último mês, mal sei como você anda e com quem anda e o que anda fazendo. Não sei se o seu tempo te fez me esquecer, te fez me superar, se te mostrou que eu era apenas uma ideia errada na sua cabeça. Não sei se o seu tempo me fez sumir de vez.
Moço, me explica, pra que tanto tempo? Pra que tanto silêncio? Ainda não consigo entender o que exatamente você quer com o tempo. Na verdade, o que todos em geral querem com o tempo? Por que todo mundo insiste em usa-lo como desculpa ou solução? O tempo deve está dando risada da nossa cara. Afinal, ele também tem os próprios problemas que também precisam de tempo. Então, com certeza, ele não tem tempo para nós.
Moço, esquece o tempo. Você não percebe que nessa história de tempo, estamos perdendo tempo? Poderíamos estar juntos agora, um na presença do outro nessa noite de quinta-feira comendo algo na lanchonete do calçadão. Mas não. Estamos separados, um com seu próprio tempo, quando poderíamos estar esse tempo todo juntos.
O nosso tempo é agora.
É agora porque é no agora que o seu sorriso me arranca os mais violentos suspiros, é no agora que você domina meus pensamentos, é no agora que eu disse não para aquele carinha que sempre foi minha paixão platônica porque depois de você ninguém mais tem graça, é no agora que eu fiquei na esperança de te ver passando na esquina da minha casa e você passou olhando para janela do meu quarto, é no agora que eu estou escrevendo esse texto com o seu rosto estampado na minha cabeça, é no agora que a gente se olha e não consegue evitar um sorriso, é no agora que a gente sente saudades, é no agora que a gente se abraça e se sente em casa, é no agora que a gente beijou e tudo mudou. Nosso tempo é agora porque é no agora que queremos um ao outro ao mesmo tempo.
E eu tenho medo que esse seu depois seja tarde demais para nós dois. Você sabe que me tem e não quer me perder, mas você não luta por mim. E se não houver nada que me prenda a você, eu não vou poder me segurar ao nada. Não posso viver na sua indecisão.
Mas agora, nesse exato momento, nesse nosso confuso e turbulento tempo, eu to esperando você bater na minha porta e pedir desculpas pela demora. 
 
Por Ridrya Carolin

sábado, 7 de maio de 2016

O quase momento


Eu sei, eu sei. A gente não tem nada a ver. 
Eu sou de libra e você de capricórnio. Você vive andando de skate pelas ruas e eu tenho medo de tudo que tira meus pés do chão. Eu tenho um futuro já todo planejado e você não faz ideia do que quer da vida. Eu deito na minha cama, no quarto com a janela sempre aberta e vários livros na estante, enquanto ouço Caetano e você anda pelos becos escuros com um enorme moletom e fones de ouvido ao som de Racionais. Seus amigos te acham individualista demais para mim e minhas amigas me acham boa demais para você. Você vai contra todos os meus padrões e eu de longe faço o seu tipo. Eu prefiro os caras mais velhos e intelectuais e você as garotinhas mais soltas e fáceis. Você se esconde por trás de um boné e uma cara amarrada e eu me entrego através do meu sorriso e das minhas palavras. 
Não. Não temos nada a ver. Eu sei muito bem disso. E como sei! Afinal, todos sabem. 
Na nossa conta dois mais dois não é quatro e na nossa gramática o i e o u não se acentuam quando formam hiato. Quando se trata de nós dois, o certo é quase sempre errado, o óbvio é quase sempre contraditório e o simples quase sempre se complica. 
E diante de tanta diferença, de tantas improbabilidades, dos meios já traçados pelos extremos, sabe o que nos salva? O quase!
Somos quase perfeitos e imperfeitos demais para combinar um com o outro. Quase bons e ruins demais para cuidar um do outro. Quase tão espertos e desligados demais para saber lidar com os sentimentos um do outro. Quase tão preparados e incapazes demais para se apaixonarem um pelo outro.
Foi por um curto e quase momento que tudo que não fazia sentido, tudo que nos tornava desinteressantes, tudo que o nunca já havia decretado e tudo que nossas mentes nunca imaginaram se cruzou. Foi um quase momento, tão curto e tão perfeito, que tudo que nos diz respeito se alinhou. E foi o suficiente para todo o insignificante resto se desfazer aos olhos um do outro.
Eu não sei como as coisas ficarão, eu não sei se já fomos decretados ao fim antes mesmo de começar, não sei se o acaso será o motivo do nosso encontro ou se as coincidências irão nos ajudar. 
A única coisa que eu sei é que naquele quase momento, tão curto e tão perfeito, fomos a prova viva de que os opostos se atraem. 
É engraçado como as coisas simplesmente acontecem. Nos conhecemos há tanto tempo e nunca aconteceu nada e do nada aconteceu. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

O meu gostar




Não. 
O meu gostar não depende do seu. Ele simplesmente existe independente da sua vontade, da sua opinião. Ele nasceu, se criou em mim e conjuntamente o alimentamos. Ele já estava bem ali escondidinho antes mesmo de eu saber, antes mesmo de eu poder evitar. Talvez ele já estivesse assistindo nós dois naquela quinta-feira de carnaval na praia quando andamos de braços dados na beira do mar a noite simplesmente por andar, para fazer companhia um ao outro; ou naquela vez que você me trouxe em casa para eu não voltar sozinha; ou naquela vez que nos encontramos por acaso no bar da esquina e conversamos a noite toda como se não houve ninguém em volta. Talvez ele já tivesse feito-se presente graças a tua presença tão comum e despercebida que passava por mim ao me fazer uma simples companhia. 
O meu gostar já era seu há tanto tempo, já havia te escolhido há tantos acasos e desencontros, já tinha virado um evidente ciúmes na minha estranha irritação repentina, já tinha te falado tanta coisa em silêncio e te ouvido tanto mesmo calado, já tinha se declarado num abraço casual, já tinha sorrido pro teu raro sorriso, já tinha cruzado com um dos teus olhares por ai perdidos. 
Moço, veja bem. Eu sei que você não planejou isso, mas eu também não. Então, por favor, não me culpe. Você não conhece meu coração. As vezes, acredito que nem eu mesma o conheço. Ele tem vontade própria, faz o que dá na telha, tão pouco me obedece. Ele é tão teimoso, tão difícil de ser controlado. Ele não insiste, mas também não desiste. E o problema é que de tanto eu tentar te esquecer, mais ele me faz lembrar de você. 
Mas esse meu gostar é diferente. Por você, ele se fez diferente. Ele não quer te apressar e muito menos te prender. O meu gostar está calado, está te gostando de longe, está em casa dormindo, está na rua com os amigos, está estudando para as provas do mês que vem. O meu gostar estar vivendo de modo tranquilo enquanto te espera. O meu gostar está esperando pelo seu e quando o seu finalmente estiver pronto, ele vai está pronto para você. 
Afinal, ele já gosta de você.
E eu, boba, não fazia a menor ideia. 
O meu próprio gostar me surpreendeu. Já não dependia mais de mim. Ele simplesmente passou a existir independente da minha vontade, da minha opinião. 
Acho que ele viu em você {o moço mais improvável}, entre tantos nãos que já recebeu, uma única exceção. 

Por Ridrya Carolin