sábado, 7 de maio de 2016

O quase momento


Eu sei, eu sei. A gente não tem nada a ver. 
Eu sou de libra e você de capricórnio. Você vive andando de skate pelas ruas e eu tenho medo de tudo que tira meus pés do chão. Eu tenho um futuro já todo planejado e você não faz ideia do que quer da vida. Eu deito na minha cama, no quarto com a janela sempre aberta e vários livros na estante, enquanto ouço Caetano e você anda pelos becos escuros com um enorme moletom e fones de ouvido ao som de Racionais. Seus amigos te acham individualista demais para mim e minhas amigas me acham boa demais para você. Você vai contra todos os meus padrões e eu de longe faço o seu tipo. Eu prefiro os caras mais velhos e intelectuais e você as garotinhas mais soltas e fáceis. Você se esconde por trás de um boné e uma cara amarrada e eu me entrego através do meu sorriso e das minhas palavras. 
Não. Não temos nada a ver. Eu sei muito bem disso. E como sei! Afinal, todos sabem. 
Na nossa conta dois mais dois não é quatro e na nossa gramática o i e o u não se acentuam quando formam hiato. Quando se trata de nós dois, o certo é quase sempre errado, o óbvio é quase sempre contraditório e o simples quase sempre se complica. 
E diante de tanta diferença, de tantas improbabilidades, dos meios já traçados pelos extremos, sabe o que nos salva? O quase!
Somos quase perfeitos e imperfeitos demais para combinar um com o outro. Quase bons e ruins demais para cuidar um do outro. Quase tão espertos e desligados demais para saber lidar com os sentimentos um do outro. Quase tão preparados e incapazes demais para se apaixonarem um pelo outro.
Foi por um curto e quase momento que tudo que não fazia sentido, tudo que nos tornava desinteressantes, tudo que o nunca já havia decretado e tudo que nossas mentes nunca imaginaram se cruzou. Foi um quase momento, tão curto e tão perfeito, que tudo que nos diz respeito se alinhou. E foi o suficiente para todo o insignificante resto se desfazer aos olhos um do outro.
Eu não sei como as coisas ficarão, eu não sei se já fomos decretados ao fim antes mesmo de começar, não sei se o acaso será o motivo do nosso encontro ou se as coincidências irão nos ajudar. 
A única coisa que eu sei é que naquele quase momento, tão curto e tão perfeito, fomos a prova viva de que os opostos se atraem. 
É engraçado como as coisas simplesmente acontecem. Nos conhecemos há tanto tempo e nunca aconteceu nada e do nada aconteceu. 

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