quarta-feira, 6 de julho de 2016

Ausência



Nos finais de semana a galera tem o costume de se reunir na praça para comer um lanche, beber e jogar conversa fora. Eu não estava muito afim de sair está noite. Tinha muitas coisas importantes para fazer como, por exemplo, começar alguma serie adicionada recentemente no catálogo do Netflix ou continuar a minha leitura da semana. Mas depois da insistência constante da minha amiga (que se resume em: umas dez mensagens, quinze áudios e a aparição repentina e inesperada na porta da minha casa) acabei deixando meus planos de lado e sai. 
Não deu outra. Sabe quando você chega no lugar e pensa "Droga! Não deveria ter vindo."? Pois é. A gente nega, se engana, ignora, mas lá no fundo aquele pequeno instinto que te pede para não sair de casa está sempre certo. 
Eu nem sei direito como aconteceu. Foi tão rápido. Numa hora a conversa na rodinha de amigos era sobre o jogo do São Paulo que iria ter na quarta-feira; e na outra, seu nome foi mencionado. Tá bom. Até que fazia sentindo falarem de você, afinal você é são-paulino doente. 
Então lá estava eu, sentada num canto, quieta, ouvindo a conversa. Ouvindo seu nome, ouvindo histórias que você fizera parte, ouvindo sobre o namoro que você reatou há pouco tempo. Eu me encolhi ainda mais no canto. Sim, teu nome ainda era música para os meus ouvidos. E não, ele ainda não soava e acho que nunca soaria com indiferença para mim. A indiferença que eu tanto queria sentir pela tua existência, pelas novidades da tua vida e pelas pessoas que faziam parte dela.  
Para minha sorte, ninguém sabia que por um curto período da minha vida você foi minha vida. Ninguém notou quando eu fechei a cara e me afastei um pouco. Fiquei um tempo ali na parte mal iluminada de trás da praça, encarando a rua que tantas vezes já me levou até a tua casa. Seria loucura minha desejar que o antes se transformasse no agora? Me perguntei, fazendo um grande esforço para não começar a chorar e brigando comigo mesma por essas idiotices ainda terem um efeito devastador sobre mim. 
Droga! Depois de tanto tempo, de tantas mudanças, de tantas voltas que o mundo deu, você ainda tinha efeito sobre mim. Sei lá, eu só achei que, a está altura da minha vida, eu já fosse forte o suficiente para não sofrer mais por coisas idiotas ou por pessoas que não me merecem. Só achei que meu coração já fosse um pouco mais resistente as pauladas que leva constantemente. Só achei que eu já fosse um pouco mais imune a você. 
E, mais uma vez, lá estava eu, deixada com a tua ausência como companheira. Agora, tenho que explicar para tua ausência que eu te perdi sem nunca te ter. Tenho que fazê-la se ausentar também. Tenho que fazer da tua ausência uma aliada porque tê-la como inimiga me mata. Espero que ela seja rápida e clara, que leve meu recado para a moça que agora te tem, que eu espero que ela te faça feliz. Espero que ela te mantenha perto e que te cuide, porque é isso que você merece. Espero que ela nunca procure pela tua ausência, porque está ficou para mim. E, espero que você saiba, que bem lá no fundo, onde não bate luz, eu estou feliz por você. 
Olhei as horas no celular, já era um pouco mais de meia-noite. Escondida, sem me despedir de ninguém, fui embora pela longa rua deserta. O bom de morar numa cidade pequena são esses momentos em que você pode andar sozinha por ai, vagando sem rumo pelas ruas vazias e um pouco escuras. E quantas vezes eu já não tinha feito isso, saído de alguma festa ou da casa de algum amigo, para andar acompanhada de meus pensamentos na volta para casa. Já tinha até perdido as contas. 
Ao dobrar a esquina, a uns dois quarteirões da rua da minha casa, eu parei de repente. Parei porque um pouco mais adiante estava a tua casa; os muros amarelos desgastados, o portão de barras brancas e o carrinho velho que seu pai te deu de presente aos dezoito anos estacionado na frente. A tua ausência me levara direto pelo caminho que eu vinha evitando desde a tua partida. Foi então, que eu me dei conta de que eu não queria voltar para casa, eu não queria viver no agora. Eu não queria morar e nem viver num lugar onde não existia você. Onde só existia eu e o que a tua ausência me trouxe.
Você se foi e me deixou no antes, da onde eu ainda não sei sair.
Meu bem, devolva-me meu endereço. Devolva-me minha rua. Devolva-me minha casa. 
Não quero mais fazer da tua ausência minha morada. Você se foi e não levou consigo tudo que era seu, deixou coisas suas em mim. E eu fiquei aqui, com o antes ainda presente, com as suas coisas misturadas as minhas, com tua lembrança fazendo morada em mim.  
Você se foi, mas eu ainda moro no antes. Lá é o único lugar onde existe nós dois.  

Por Ridrya Carolin

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