domingo, 3 de julho de 2016

O seu cantinho



De novo, eu vou tirar os olhos da televisão e olhar para o celular em cima do sofá ao meu lado. Vou apertar o botão inicial e mesmo sem ter nenhuma notificação interessante eu vou fuçar o Facebook, vou ver as três primeiras fotos que aparecem no meu Instagram e finalmente vou dar só uma olhadinha no WhatssApp para checar o que o pessoal está falando no grupo da festa que vai ter semana vem ou para confirmar se as meninas vão mesmo fazer algo hoje a noite. Apenas isso, ok? Eu não vou ficar olhando a sua foto de perfil, que afinal de contas você mudou ( e eu gostava mais da antiga), e muito menos o horário da última vez em que você esteve online, que foi há uns vinte e quatro minutos atrás. 
Não. Relaxa. Eu não sou uma louca obsessiva.
Juro. Não sou. 
Droga.
Quem é que eu tô tentando enganar?
Eu não tô nem ai para o que o povo anda compartilhando no Facebook, nem sei quem são aquelas pessoas nas três fotos que eu vi no Instragram e tô pouco me lixando para o que estão falando naquele grupo do WhatssApp que mais da metade dos participantes eu não conheço. 
Eu fico encarando esse celular de minuto em minuto porque estou ansiosamente ( e desesperadamente) esperando você vir falar comigo. Não tem sensação melhor no mundo do que bater o olho no tela do meu celular e ver seu nome ali. Toda vez que vejo aquele "Oi", um pequeno sorriso se forma no meu rosto. Até já sei de cor o seu jeitinho sem graça de puxar conversa. "Tudo bem?" ou "O que faz de bom?". E eu preciso confessar, eu adoro. Adoro o fato de que pelo menos num segundo rápido do seu dia, você lembrou de mim, você teve vontade de falar comigo. Mas adoro ainda mais o fato de eu existir na sua vida. Nem que seja de modo superficial, de um jeito insignificante. Mesmo que o lugar em que habito seja pequeno e pouco valorizado, eu adoro estar neste cantinho da sua vida. Adoro ter este cantinho. 
É pouco, eu sei, mas eu gosto. Porque apesar de ser pouco, é alguma coisa. Pequena e boba, mas é.
Estamos na primeira semana do mês de julho e faz um pouco mais de dois meses que estamos conversando quase todo dia e nos vendo quase todo final de semana. Talvez você nem tenha se dado conta, mas você tem um cantinho na minha vida também. Um cantinho só seu, que me faz pensar em você pelo menos umas duas vezes no dia, que me faz me importar se você passou no exame daquela matéria super difícil da faculdade, que me faz desviar do meu caminho habitual na volta da academia só para ver se seu carro está na garagem. Um cantinho que me faz feliz por saber que quem agora o ocupa é você; e que me faz triste por saber que talvez amanhã você já não o ocupe mais e ele volte a ficar vago.
Olhei de novo para o meu celular. Nenhuma mensagem sua. Você sumiu. Desde quinta não nos falamos mais. E, eu sei, eu não deveria estar ligando. Afinal, não temos nada mesmo. Você deve estar em algum bar na cidade vizinha bebendo com aquele seu amigo palhaço ou deve estar se livrando da tensão com alguma "louca aí". Ou talvez, na pior das hipóteses, tenha voltado de novo com a biscate da sua ex.
A questão, é que eu ainda não aprendi a lidar com os seus sumiços. Ainda não aprendi a entender o significado deles. Eu ainda não tô preparada para o seu oi se tornar um adeus. Não tô preparada para te ver indo embora...de novo. 
Droga, você vai fazer isso de novo. 
Você vai sumir. 
Nos últimos cinco anos, o acaso fez com que nos perdêssemos três vezes e nos encontrássemos duas. E na última vez que você sumiu assim do nada, sem dar uma satisfação, eu fiquei sozinha tentando não sentir tanta falta daquele cantinho. Eu fiz de tudo para me desapegar tão rápido quanto me apeguei. E quando eu finalmente consegui, quando eu finalmente tinha colocado outro no cantinho que era seu, você voltou. Mais uma vez você voltou. Todo decidido, livre e com mil promessas para cumprir. E adivinha só, mais uma vez eu te dei uma chance e mais uma vez você sumiu do nada, sem nem ao menos dizer um "Tô vazando, gata".
Soltei uma risada irônica, o corpo cansado e os pensamentos a mil. Olha só, a gente se perdeu de novo. E desta vez, eu espero que não nos encontremos mais. Eu não ainda não aprendi a lidar com as suas voltas. Ainda não aprendi a entender o significado delas. Eu ainda não tô preparada para te encontrar numa festa qualquer por acaso, logo quando eu menos espero, e me render àquela repentina saudade de te ter no meu cantinho. Não tô preparada para te ver voltando...de novo. Porque eu nunca sei se abro o coração ou se largo mão. 
O problema desse seu vai e vem é o terremoto que cria em mim. 
Você não sabe, mas toda vez que você se aproxima, eu me apaixono de novo. Não só por você, antes fosse. Talvez seria até mais fácil de lidar. Mas eu me apaixono ainda mais pela ideia de dar certo, me apaixono pela ideia de "nós". E é difícil dar um fim ao que nunca teve um começo. É difícil se desapaixonar de um sonho tão bonito. 
E é mais difícil ainda ver o seu cantinho vazio. 
De novo, eu vou indo. Vou te largando, te esquecendo, vou de cantinho em cantinho até voltar para a casa num sábado a noite. Vou ouvindo seu nome em conversas avulsas, vou me apaixonar por algum babaca e quebrar a cara. E, então, entre encontros e desencontros, você vai aparecer de novo. 
Não foi dessa vez, talvez não seja na próxima e nem na seguinte. Mas vai chegar o dia, em que você irá vir de mansinho, todo decidido, livre, com mil promessas para cumprir e vai voltar para o seu cantinho.
E quem sabe, desta vez, você resolva ficar. 
Mas, por enquanto, era apenas eu, mais uma vez, ouvindo do seu silêncio um adeus.  

Para ler ouvindo: Little Do You Know - Alex & Sierra

Por Ridrya Carolin 

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