quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Meu encantamento


Ninguém precisa saber 
que por você 
eu adiei minha volta
e que andei por aí
só pra ver se te encontrava 
mas como sempre
não tinha nada pra ver

Ninguém precisa saber 
que naquela noite eu não dormi
e aos prantos, eu amanheci
Com a ideia errada 
de que eu era a culpada 
por não ter dito nada 
quando ela te pediu para deixa-la em casa

Eu fui quem eu não era pra ser
quando quis te conhecer
naquela madrugada 
da semana passada
E mesmo sem convite 
Te fiz de convidado 
e te dei um espaço no banco ao meu lado
Você se sentou com a ideia errada 
de que eu ficaria apaixonada 
só com um segurar de mãos 
e com seu jeito brincalhão

Eu vi tanto fascínio
na bagunça que ficou o meu quarto
quando você entrou 
e deixou todos os livros revirados no armário
Seu cheiro exalando o encanto
que eu te roubei 
enquanto você me beijava 
pela cantos da cidade a meia luz

É que faz parte do sofrimento
lembrar de certos momentos
em que eu sorri
e calei o silêncio
com uma risada mal interpretada
de fatos que com você nunca vão acontecer
É que talvez nunca foi e nem era pra ser

Ninguém precisa saber
que um dia você se foi 
e no seu lugar apareceu um cara
que não queria nada com nada
que tentou beijar a tal garota na volta pra casa
e no dia seguinte contou mentiras ensaiadas 

Foi quando eu vi 
que tinha sido enganada 
Você me apresentou a versão errada
de um cara brincalhão
que fugiu achando que eu estava apaixonada

Mas você não precisa saber
que eu me virei do avesso
há bastante tempo
e esse meu novo lado
não cria sentimentos
Mata e devora do jeito mais lento
Foge antes ser pega por um envolvimento

Você não precisa saber
que a moça de sorriso fácil 
e batom escuro nos lábios 
deixou o coração de luto
por tempo indeterminado
e pretende cumprir o prazo
que já não é mais válido

É que faz parte do meu encantamento
Te fazer lembrar de certos momentos
em que você me viu sorri
e achou que eu era sua
entre os beijos e o silêncio
da minha risada mal interpretada 
de fatos que com você nunca vão acontecer
É que, na verdade, eu e você
Nunca fomos e nem vamos ser. 

Por Ridrya Carolin

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Temporada de caça


Ontem eu ouvi o som do meu coração se quebrando. A rachadura foi se abrindo da maneira mais lenta, dolorosa e depois se partiu de vez num baque ensurdecedor. Quando o barulho se tornou inexistente, eu soube que mais uma temporada de caça tinha começado e não havia previsão para terminar. 
O prêmio seria do caçador que conseguisse matar o animal mais difícil de ser encontrado. 
A mudança repentina da estação me pegou de surpresa. Eu não estava esperando uma nova temporada de caça tão cedo. Não vi nenhum cartaz pelas ruas, nenhum anúncio no jornal, nenhuma propaganda no rádio. Eu apenas dormi de janela trancada e na manhã seguinte já estava correndo risco de vida. 
Ignorei os avisos de cuidado, descobri os esconderijos das chaves e atravessei a esquina, desarmada. Na última temporada de caça, um dos poucos que podiam me ver quase me matou numa só flechada. Mas eu fugi para longe, fiquei fora de alcance e ele errou a mira. Depois de tanto tempo, de quase ser pega, como eu ainda tinha coragem de caminhar ao lado do perigo? Qual era o sentindo daquela vontade doentia por atenção e pretensão? Os animais mais ferozes tendem a desafiar as circunstância. Não sei se é pela necessidade de provar algo para si mesmo ou se é uma forma estúpida de camuflar a vulnerabilidade. 
Vi seus olhos em mim certa vez, atentos e perfeccionistas. Não se intimidou pela minha aparência ávida, não desviou o olhar, não se distraiu com o que havia do outro lado. Eu fiquei me perguntado, o que você enxergava? Só mais uma garota sonhando acordada ou se via alguém andando nas pontas dos pés na beira do abismo?  Em silêncio, eu torcia para que você visse alguém tentando chegar ao outro lado da cordilheira. Alguém que cansou de fugir e agora queria ser encontrada o mais rápido possível. 
Quanto mais perto eu chegava, mais perto eu queria. Quanto mais eu ouvia, mais eu queria a voz ao pé do ouvido. Quanto mais eu via, mais eu gostava do que meus olhos registravam para mais tarde eu me lembrar de novo e de novo. Quanto mais eu andava, mais eu implorava para o abismo não está tão á frente. Quanto mais eu pensava no fim, mais ciente eu ficava de que nunca pôde haver um começo. 
Preciso tomar cuidado com a realidade. Ela anda se misturando com as fantasias da minha mente errante. 
Pensei ter ouvido você gritar meu nome no portão hoje cedo enquanto eu escrevia. Pensei que você tinha me visto dançar Beatles pela sala naquele pijama feio que uso todo dia. Pensei que você tinha entendido o segredo por de trás do meu sorriso quando sorri de volta pra você sem intenção.
Eu estou condenada a ficar parada no meio do nada em plena temporada de caça. Sentada no gramado, olhando para cima e esperando ser encontrada. Não estou preocupada com o perigo, não tenho medo da morte súbita. Hoje, eu só quero que a realidade não seja tragicamente real. Hoje, eu só quero que a realidade apenas seja. Seja o que tiver, seja o que aconteça. Quero que hoje, eu e você, a realidade, o medo, o perigo, a matança, o prêmio...apenas seja e, se possível, permaneça.

Por Ridrya Carolin   

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A hora do almoço

  
Eu estava fazendo meu ritual de toda manhã quando percebi que alguma coisa estava errada. Fora do lugar, mal colocada ou talvez até desaparecida. No meu quarto pequeno e aconchegante, minhas coisas pareciam estar na sua devida bagunça: roupas jogadas em cima da cadeira, livros para todos os lados, copos vazios no criado mudo, folhas de caderno rasgadas pelo chão, um montinho mal feito de CDs na prateleira. Meu jeitinho desorganizado era a estampa ilustrada do meu quarto. Sempre me achei na minha bagunça, mas hoje eu estava perdida nela. Eu parecia fora do lugar, fora de mim, em um ato quase desesperado tentando encontrar o que havia perdido, sumido, ou sei lá. O caso era que essa tal coisa não estava ali. O que poderia ser? Eu me perguntava intrigada e prestes a ficar mal humorada. A resposta parecia está na ponta da língua e no entanto, nada ficava claro em minha mente.
O cheiro de café fresco logo de manhã cedo dominou por completo o espaço a minha volta. Eu amava aquele cheiro. Amava a sensação reconfortante que ele me dava e odiava a agonizante familiaridade com algo que ainda vivia em mim, mas que por hora estava repentinamente esquecido. Eu tinha esquecido dessa tal coisa e agora o cheiro me obrigava a lembrar de um jeito ou de outro.
Ainda sonolenta, com as pálpebras pesadas e o corpo preguiçoso, eu analisei atentamente a casa velha, grande e bagunçada que agora era minha casa. Pelo menos na teoria. Vi minha avó sentar na cadeira ao meu lado e escutei seus comentários sobre o capítulo passado da novela, ri quando ela xingou umas quatro vezes o cachorro que não parava de latir e conversei com ela a respeito do livro que eu tinha acabado de ler.
Era uma manhã tranquila, típica, igual a todas as outras.
Foi umas horas depois, na hora do almoço, que eu me toquei. Foi sentando sozinha a mesa, encarando as cadeiras vazias e ouvindo o silêncio que eu descobri o que era a tal coisa que faltava. Na verdade, quem era a tal pessoa que havia sumido. Ah, como eu queria não ter me lembrado! A brincadeira de faz de conta estava quase me convencendo do ''é só mais um dia bom''. A dona Saudade estava demorando para aparecer hoje. De certo, ensaiando uma entrada triunfante. E como sempre, seus shows viravam um grande espetáculo na minha vida chata.
Eu senti falta dela na hora do almoço. Senti falta da conversa jogada fora, dos olhares brincalhões, dos sorrisos de canto de boca. Senti falta dela quando acordei sem as janelas sendo abertas e as luzes acesas, sem a demora na fila do banheiro, sem a reclamação constante sobre o peso, sem o beijo de despedida antes de ir para o trabalho. Senti falta dela até no cheiro, na aparência e no gosto da comida.
A saudade manifesta toda sua carga dolorosa, toda sua intensidade forte e apavorante nas pequenas coisa, nos pequenos detalhes, nas mais improváveis horas. Como momentos tão curtos, pensamentos tão passageiros, lembranças mal vistas, coisinhas que pareciam ser tão insignificantes conseguiam ter tanta influência na saudade? Infelizmente, a saudade usa esse golpe baixo para aqueles que nutrem um amor inacabável ou para aqueles que olham de tempos em tempos para trás: ela pega algo pequeno e o transforma em grande, um efeito escasso em um sentimento doloroso.   
Ri de mim mesma enquanto detalhava certas ironias que escreviam o roteiro do meu cotidiano. A hora do almoço costumava ser algo tão comum que eu mal dava importância. Minutos depois eu já teria esquecido o que comi. Mas hoje foi diferente, Daqui pra frente tudo seria diferente.
Sem ela, até a hora do almoço tornara-se sem graça para mim.

Por Ridrya Carolin

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O não da vida

 

Eu não sei o que me assusta mais: a bagunça aqui dentro ou a confusão lá fora. Tem certas horas que eu não consigo mais encarar o mundo, aturar as pessoas, forçar sorrisos, manter uma boa aparência. Tem certos momentos em que ser forte não é opção, é uma necessidade. Lutar contra obstáculos é difícil, mas lutar contra si mesmo é mais difícil ainda. Eu tenho as palavras certas e as erradas, os pensamentos positivos e os negativos, o remédio para minha cura e o veneno para minha morte. Eu sou a causadora da ruína da minha estrutura, das minhas paredes caindo aos pedaços, do meu chão cheio de buracos. Eu me importo demais com tudo que acontece aqui dentro e com tudo que acontece lá fora. Eu dou ouvidos demais para segundas opiniões. Não consigo ignorar o tal do mal olhado. Eu critico as coisas a minha volta, o que eu tenho, o que nunca terei, o que os outros tem, o que eu queria ter. Eu critico as pessoas que conheço e aquelas que não conheço, critico seu jeito de falar, de se vestir, os seus gostos, os seus defeitos e até mesmo suas qualidades. Critico os livros que já me agradaram com perguntas que talvez os autores não soubessem responder; e critico ainda mais os livros que não suportei indignada por ver seus nomes na lista dos mais vendidos na revista Veja. Critico até mesmo os filmes que amei, pois sempre acho uma das cenas mal feita ou uma atriz que atua mal. Mas a pior de todas as criticas eu faço para mim mesma. Se eu critico tanto tudo, é porque sei me criticar ainda mais. Se cobro tanto do mundo, é porque cobro ainda mais de mim. Eu sou obcecada pelos meus planos. Entro em desespero quando não dão certo, e nunca dão. Eu penso demais no que vai acontecer lá na frente porque meu medo do futuro é grande demais.
Nunca quis participar das competições estupidas que as garotas criam discretamente, mas também nunca soube ignora-las.  Nunca fiz questão de ter a nota mais alta, o cabelo mais comprido, o rosto mais bonito, a altura mais elevada e a cabeça mais inteligente. Nunca gostei de me comparar com as outras garotas, até porque não tenho confiança o suficiente para arriscar tal ato. Apesar de nunca ter me achado melhor em nada, nem a mais bonita e nem a mais inteligente; nunca me ocorreu que eu tivesse perdido uma competição na qual nem entrei. Se elas estavam na minha frente ou bem certas no meu passo, para mim era um tanto faz. Mas hoje me toquei de que elas estavam muito além de mim. Eu tinha ficado para trás. Elas tinham ganhado de mim. O que? Eu não faço a minima ideia. Mas de repente sentir o gosto amargo da derrota. Fiquei com vontade de sumir, de me prender em casa e nunca mais sair. Eu fiquei com tanta vergonha de mim por não ter nada de especial. Coloquei o rosto entre os travesseiros e chorei até não poder mais. Eu era uma fracassada. Talvez o pior tipo de fracassada: aquela que se importa. Tenho inveja das meninas que não se importam com uma derrota, que aceitam o que tem, que acham que tudo está bom e pronto. Eu queria muito ser uma delas, uma conformada.
Quando estamos deprimidas, não há nada pior que ouvir aquelas tipicas frases motivadoras vindas dos pais ou dos amigos. ''Tem que seguir em frente'' ''Tem que ser forte'' ''Na vida nada vem fácil'' ''Levanta a cabeça''. As pessoas não cansam de dizer o óbvio. O óbvio eu já sei. Não preciso que ninguém me diga ou me lembre. Mas no meio de todos esses clichês e conversas fiadas, uma coisa me chamou atenção. Umas frase pareceu fazer realmente sentido: A vida vai te dá mais não do que sim. Será tantos nãos que você perderá a conta e tão poucos sims que você dará extremo valor. O importante é saber aceitar os nãos da vida e mais importante ainda é saber como lidar com eles. A vitória não começa com um sim e a vida não acaba com um não.

Por Ridrya Carolin  

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O monstro debaixo da cama

 

Faltava poucos meses para completar um ano sem vê-lo, um ano longe da sua influência, da sua capacidade de trazer o meu pior a tona. Eu finalmente poderia me virar para algum amigo e dizer que superei, que estou bem, que não sou mais assombrada pela a voz dele durante a longa madrugada. E tudo isso seria uma grande mentira. Mal me reconheço quando me olho no espelho, não confio em mais ninguém, não sei mais andar desarmada pelas ruas. Eu não gosto de quem sou agora. Não me agrada ser vazia, carente de sentimentos até mesmo com as pessoas de quem me importo. Fiz de mim mesma alguém incapaz de demonstrar qualquer afeto, incapaz de sofrer, incapaz de chorar. Aprendi a segurar minhas emoções, a guardar todas as magoas para mim, a achar graça da minha própria desgraça. Eu tinha a esperança de fazer das minhas lembranças uma arma contra o mundo, um lembrete da minha decepção. Eu acreditei que parando de me importar eu iria começar a esquecer tudo de ruim que me aconteceu. O problema é que o passado sempre volta. Não adianta mudar de casa, de cidade, de amigos, de personalidade. O passado sempre está a nossa procura e é inevitável engana-lo durante o percusso. Ele não precisa fazer esforços nenhum para te encontrar. Ele simplesmente vem. E de um jeito ou de outro, no fundo, sabemos que esse dia vai chegar.
Ontem, eu o vi. De relance, por míseros segundos, um olhar mal visto, mas o vi. Virei minha cabeça para o lado contrario tão rápido que fiquei tonta, abafei um grito tão desesperado que minha garganta ardeu e meu peito recebeu um baque tão estrondoso que por um momento ficou morto. Por que doeu? Por que olhar para ele doeu? Era como se todo aquele sofrimento tivesse voltado a vida, todos os sentimentos que trancafiei tivessem conseguido se soltar, a pessoa forte que me tornei tivesse se transformado em fraca. Eu fiz das minhas lembranças pesadelos na esperança de que elas fossem nada além de monstros imaginários debaixo da cama. Mas quando o vi, me toquei de que tudo era real. Ele era real. Ele tornara-se uma parte de mim, a pior de todas, do qual eu nunca poderia viver sem. Ele era o mal que existia em mim. Quieto, parado, inofensivo, imortal. Nada além de um monstro debaixo da minha cama que se tornara real.

Por Ridrya Carolin     

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Cata-Vento


Me perdoa
se eu desvio meus olhos do seu olhar
por fechar a boca e engolir as palavras
que eu quero te falar
por contrariar meu pés 
que insistem em te procurar

Me perdoa
se eu sou insegura
e desconfio de tudo e de todos
se eu te afasto
quando mais preciso do seu abraço

Me perdoa
se eu não acredito mais em nada
se o tempo me deixou amarga
se eu faço dos meus sentimentos uma lastima 
e te culpo
por conseguir trazer de volta
quem eu era antes dos meus medos
e magoas

Me perdoa
se eu faço do teu domingo
uma segunda-feira 
e mesmo ouvindo teus vários elogios
eu ainda me ache feia

Me perdoa
por desistir antes mesmo de começar
Eu não sou 
o melhor que você merece
Eu sou
o pior que você desconhece

Me perdoa
se eu quero te fazer meu 
e acabo sendo só mais uma
que se desdobra em duas
só para não ser sua

Me perdoa
se eu te deixo ir
e não vou atrás
Eu mudo de caminho
para ficar milhas na frente
e você ultrapassa cada planejado passo
me deixando para trás

Me perdoa
se eu fiz do teu nome
uma súplica do meu desgosto pela vida
e abafo em cada choro
um grito de socorro

Me perdoa
se eu sou toda errada
me faço de falsa
enquanto danço um sorriso exibido para o azar
e acabo me tornando fraca
Me perdoa
se eu não sei amar
e nem ser amada

Por Ridrya Carolin

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Nada de nada


Odeio tudo aquilo que fica perto 
e vai para longe
Odeio tudo que aparece,
encanta 
e depois some

Odeio tudo 
que se passa na minha cabeça
e não acontece
Odeio tudo
que vivo no sonho
e morre quando amanhece

Odeio tudo que rotula
o tempo, o espaço
e que nos tortura 
São histórias já escritas 
planos já formados
É um grande labirinto
sem saída por nenhum lado

Odeio tudo
que é engraçado 
e não me faz ri
Pessoas que tentam
e conseguem ser palhaças 
que acham graça até de um porco
correndo atrás do próprio rabo

O mundo habita hipócritas
lugar vazio
lotado de idiotas
Falta uma mente boa
Cheia de ideias
que preencha os buracos
que a prefeitura não conserta 

Ninguém está disposto 
a jogar fora 
a mostrar na rua 
a expressão certa de um rosto
Preferem rir da vida
mesmo que não achem motivos
para ser vivida

Moramos em gavetas
como algo escondido 
trancados a sete chaves 
esquecidos
quase nunca encontrados

Eu sou hipócrita
escrevo o que eu não sei
sinto o que não conheço
imagino muito
e vivo pouco 

Eu odeio 
a mim mesma 
por não ser eu mesma
por não falar alto
por não olhar para quem eu quero
por não ser o grito no meio do silêncio
Eu só me calo
e me reservo

Odiar
não me deixa no centro do mundo
não me faz saber de tudo
pois sobre o nada
nada sei
e mesmo que quisesse
o nada esconde segredos demais
para se entender

Por Ridrya Carolin

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O suficiente

 

Eu queria ser forte
o suficiente 
para não cair
quando mais um buraco se abrir

Se eu tivesse controle 
o suficiente
não me renderia a mais um sorriso
que futuramente 
será mais um caso esquecido

Se eu pudesse prever
qual pétala fará a flor morrer
não veria nos olhos da pessoa errada
brilho suficiente para sustentar o dia
sem sol, sem nuvens
sem sombras que escondem a agonia

Eu poderia ignorar
Parar de fantasiar 
que nele existe esperança 
o suficiente 
para quebrar minha maldição 
para olhar nos meus olhos 
e ver as cores da salvação 

Eu poderia andar
em passos lentos 
sem deixar marcas 
sem seguir pegadas
Controlar e congelar o tempo

Se eu pudesse saber 
como não cair
por qual caminho não seguir
Não me apaixonaria 
pela ideia de amar
pela luta de olhar nos mesmos olhos 
e ver cores diferentes de salvação 

Se eu soubesse
não me apaixonaria 
pela procura do descanso da aurora 
em cada raiar do dia

Eu queria amar
o suficiente 
para acreditar 
que no fim de cada caminho 
não exista sempre um coração partido

Mas nos olhos de um desconhecido
eu vi uma única cor
mais forte que a da minha salvação 
que derrota meus medos 
me liberta da minha prisão

A cor que não existe em outros olhos 
que me torna dependente 
que tem luz própria e não se apaga 
que pela primeira vez
seria o suficiente. 

Por Ridrya Carolin

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Por que não eu?


Para a sua surpresa, ela não tinha batido a porta na cara dele e até o deixou entrar sem gritar os palavrões que já tinha na ponta da língua. 
Ela também não parecia surpresa por vê-lo parado ali na sua porta a essa hora da noite. 
Apesar da implicância desnecessária, os dois tinham um entendimento. Amavam se detestar, se provocar, se desafiar.
Os olhos castanhos dela estavam enevoados como sempre, mas, ainda sim, traziam consigo aquela ironia de todos os dias. Ela deu um meio sorriso e abaixou a cabeça, colocando uma mecha do cabelo para trás da orelha. Ele não entendia porque ela tinha tanta vergonha de sorrir para ele. Quando ela finalmente estava conseguindo se mostrar de verdade, alguma coisa a puxava de volta e a velha rabugenta das aulas de Direito Empresarial voltava a tona.
A certeza de que um dia ela não iria mais conseguir se segurar quando estivesse perto dele lhe dava a paciência que ele precisava para continuar tentando até ganhá-la pelo cansaço. 
E aquela situação desagradável o divertia. 
Quanto mais ele insistia nela, menos ela conseguia fugir. 
- Você não tem nada melhor para fazer num sábado a noite? - ela perguntou, levantando as sobrancelhas e restaurando a semblante sarcástico que era sua marca registrada.
- Perturbar você toma todo meu tempo. 
Ele entrou na sala em que já estivera tantas vezes, mas não porque já tinha sido convidado. Todas as vezes que atravessara aquela porta era apenas para trazê-la para casa depois de alguma festa e nunca ficava tempo suficiente para olhar em volta. 
As fotos na estante chamaram sua atenção. Eram fotos de encontros familiares, reunião com os amigos no quintal da casa de algum deles, viagens de carro pelo sul do país e momentos engraçados em que ela se permitia ser engraçada. 
Ele sorriu, sentindo inveja das pessoas que faziam parte da vida dela. Eles a tinham e ela os amava. 
Uma pergunta inconveniente surgiu em seus pensamentos: ele queria saber se um dia teria espaço para ele naquela estante, naquela vida tão boa e naquele coração tão difícil. 
Mas, infelizmente, isso não dependia dele. 
Só ela tinha a resposta. 
Piscando os olhos depressa, ele acordou de seus devaneios e voltou para o presente. Ela estava o observando em silêncio, como se não existisse mais nada que pudesse agradar seus olhos. E talvez fosse verdade, ele queria que fosse. Então lhe ocorreu que, pela primeira vez, desde que a conhecera em uma das cervejadas da faculdade, eles estavam a sós.
Envergonhada, ela puxava assunto sobre qualquer coisa que lhe vinha na cabeça. Tudo menos aquele silêncio desagradável. 
- Vamos ver o que você tem aqui. - ele disse, mexendo na prateleira de CDs - Beatles, Ed Sheeran, Legião Urbana e claro, Taylor Swift. - ele revirou os olhos brincando e ela riu - Nossa! Você é mesmo fã do Kid Abelha, não é?
Ele pegou o disco de vinil Educação Sentimental de 1985. Tinha uma dedicatória escrita no canto e depois de ler, ele entendeu que o disco havia sido presente do pai dela. E, pelo modo em que estava guardado, era de extremo valor para ela.  
- Desde sempre. - ela deu os ombros - Cresci ouvindo as músicas com meu pai. Me identifico com quase todas as letras. 
- Eu também. 
Os dois se olharam fixamente por alguns instantes. Um olhar rápido e cheio de significado.
Ela não estava preparada para aquilo. Nunca conhecera nenhum cara que gostasse das mesmas músicas que ela, muito menos de Kid Abelha. Ela tentava em vão encontrar mais e mais motivos que não a fizessem gostar dele, mas quanto mais procurava defeitos mais encontrava qualidades. O que havia de errado com ela? Se tinha alguém que conseguia desvendar os defeitos dos outros com apenas uma rápida olhada, era ela. Ela não se iludia. Ela não esperava nada de ninguém. Ela dava prioridade para o que existia de pior em cada um, mas com ele esse método não funcionava. 
- Essa música...- ele começou a falar enquanto colocava o CD no aparelho de som - descreve nós dois. Pelo menos é o que eu acho. - ele acrescentou a última parte de forma rápida, envergonhado por seu pensamento ter escapado pela boca tão impulsivamente. Olhou para o chão e sorriu. 
Logo no primeiro segundo, no instante em que a música adentrou os seus ouvidos, ela soube qual era. ''Por que não eu?'' na versão acústica. Os dois se encararam com uma intensidade tão grande que era impossível desviar o olhar ou disfarçar a sensação maravilhosa e assustadora que surgiu de repente. 
Ele estendeu a mão para ela com um sorrisinho convencido no rosto. 
- Ah, não. Não mesmo. - ela protestou, dando passos para trás. - Eu não sei dançar.
- Não tem problema.
- Você não está entendendo. Eu sou uma péssima dançarina. 
- Você é muito boba, isso sim. 
Com um movimento rápido e inesperado, ele a puxou pela cintura fazendo com que o vestido florido dela roçasse nas suas roupas. Sua mão foi de encontro com a dela, se encaixando perfeitamente. A faísca que surgiu daquele leve toque a fez sentir calafrios na barriga. Ele transmitia a segurança que ela precisava pela firmeza em que prendia a mão em seu corpo, como se jamais fosse soltá-la, não importando o quanto ela se debatesse contra.
Os olhos dele se encontraram com os dela, aumentando o grau de intimidade entre os dois. Tão profundos e impetuosos que ela sentia a necessidade de se afogar dentro deles pelo resto da vida. Estavam tão perto um do outro como jamais estiveram antes. Ela conseguia ver tudo que ele mostrava e escondida. Sentia-se nua, exposta, sem nada a esconder, sem ter como fingir. Era uma mistura gostosa de medo e prazer. Era a sensação incomum e assustadora de pertencer a alguém além de si mesma.
- Fecha os olhos - ele pediu, reparando o quão tensa ela estava. - Só escuta a música. Eu vou te guiar. 
Ela obedeceu sem hesitar. 
Os pés dele começaram a se mover e os dela foram acompanhando o ritmo. Quando ele sentiu mais confiança nos movimentos dela, foi tornando a dança cada vez mais sincronizada. Então, ele a rodopiou e a puxou rapidamente de volta para si, acabando com o espaço que os separavam. Ela voltou para ele sorrindo de orelha a orelha, o som da risada ecoando no ar. 
Ele não se lembrava de já tê-la visto sorrindo daquele jeito antes, tão espontânea e sincera. 
- Viu? Você tá dançando. 
Envergonhada, ela reprimiu o sorriso e descansou a cabeça no peito dele. Finalmente achara uma vantagem em ser tão baixinha. 
Com o coração acelerado, ele tocou os cabelos dela com a ponta de seu nariz sentindo o cheiro maravilhoso de uva que vinha deles. 
Enquanto dançavam tão distraidamente, sem nem ao menos notar que era a quarta vez que a música se repetia, ele passou os olhos ao redor da sala e observou a prateleira com mais de duzentos livros. Ela tinha de Orgulho e Preconceito a A culpa é das estrelas. 
- Como uma menina tão realista consegue ler tantos romances? - ele perguntou sendo sarcástico e ela não respondeu. - Você diz que não acredita no amor, mas escreve coisas lindas sobre ele. Não acha que isso prova o quão cínica você é?   
- Eu escrevo sobre como eu gostaria que as coisas fossem, não como elas são. 
- Não tem vontade de trazer suas palavras para realidade? 
- Não.
- Por que não? 
"Porque eu já quis, já tentei. Porque nunca deu certo e eu cansei de me magoar". Ela respondeu mentalmente, engolindo as palavras. 
- Porque escritores precisam sentir a dor para poder escrever sobre o amor.
- Eu acho que você precisa sentir o amor para poder entender a dor. Você não sente dor. - ele falou, olhando nos olhos intrigados dela. - Se sentisse, iria entender como eu me sinto todas as vezes em que você foge.
Logo ela, que sempre tinha argumentos na ponta da língua, não tinha o que dizer. Não sabia como se livrar daquela situação. 
E, pela primeira vez, ela não sabia como fugir dele e nem de si mesma. 
Com toda calma do mundo, ele acariciou o rosto dela e se aproximou. Colou os lábios em seu ouvido e sussurrou:
- Por que não eu?

Por Ridrya Carolin

domingo, 4 de maio de 2014

A nevasca



Ela era diferente. Não precisava chamar atenção para ter todos os olhos voltados para si. Ela era inteligente. Sabia de coisas que ninguém sequer tinha ouvido falar. Ela era interessante. Tinha olhos com um brilho indecifrável, escondia um segredo por de trás deles. Ela transbordava mistérios e intimidava os curiosos de plantão. Não se entregava de primeira, nem de segunda e muito menos de terceira. Talvez nem na quinta tentativa ela se deixava ser despida, mas se entregava ao humor. Nunca negava uma longa risada e sempre via graça em tudo, apesar de quase ninguém ter tido a sorte de se deparar com o sorriso brando dela.
Ela era dissimulada. Jamais demonstrava com clareza o que estava sentindo. Ninguém poderia dizer se ela estava feliz ou triste, pois seus meios sorrisos não eram confiáveis. Ela era manipuladora. Sempre conseguia o que queria, sempre mudava a opinião dos outros, sempre transmitia segurança pelos seus bons conselhos e seu vasto conhecimento sobre as reações humanas.
Ela era linda, mas não sabia disso. Tinha a capacidade de deixar qualquer homem aos seus pés, mas não usando seus atributos físicos. Ela seduzia com palavras. Dominava a junção de palavras simples e as transformavam em complexas. Com uma rápida olhada, ela descrevia os defeitos de qualquer um e raramente errava. Priorizava o que havia de ruim dentro de qualquer um antes de descobrir o que havia de bom. Ela se encantava fácil com pessoas simpáticas, mas sempre tinha o pé atrás com elas. Evitava ao máximo decepções. Não duvida da capacidade que as pessoas tinham de decepcioná-la e por isso não costumava subestima-los com primeiras impressões.
Ela era forte. Fortes demais para uma garota tão jovens. Nunca se dava por vencida. Sempre corria atrás do que queria, ignorando as consequências que poderiam atormentá-la pelo resto da vida. Ela era determinada como uma andorinha fugindo do inverno. Sabia ser paciente nas situações mais complicadas e mantinha a elegância nas brigas mais vulgares. Ter compostura era sua prioridade acima de qualquer emoção.
Ela temia o amor mais do que a própria morte. E mesmo que seus machucados já tenham sido cicatrizados, ela já não era mais a mesma há muito tempo. Aprendera a si proteger dos homens, do mundo e de si mesma. Ela podia amar intensamente e podia ser amada por inteiro. Mas enquanto seu coração estivesse quebrado, nenhum feixe de esperança iria aquecer o frio que por dentro se criou, matando qualquer chance de florescer a salvação que ela precisava. A neve cairia durante bons anos.
Ela tornara-se vazia.
Ela tornara-se fria e destrutiva.  
Ela era uma nevasca. 

Por Ridrya Carolin           

domingo, 20 de abril de 2014

O meu avesso

               


Eu espero que toda vez
que ele coloque a cabeça no travesseiro
Ele veja meu rosto 
ele ouça meu choro
se afogue nas minhas lágrimas
e sinta toda a minha dor
Espero que ele seja torturado 
pelo ódio que em mim se criou 

Eu espero que quando ele feche os olhos
Ele ouça meu grito 
sinta minha pele rasgando 
meus ossos quebrando
e meu coração rachando 

Espero que ele consiga tudo que sempre quis
que por um bom tempo seja feliz
até o dia em que eu ressurgir 
para acertar as contas do passado
e cobrar a sua divida 
centavo por centavo 

Eu vou te mostrar o meu avesso
um lado que eu ainda desconheço
e que por muito tempo tive medo
Uma viciada em desacreditar 
Um alguém que desaprendeu a amar

Eu espero que quando o próximo vier
Eu já esteja acostumada 
Com as armas apontadas 
pronta para devora-lo
até estar carregada 
e com a minha sobrevivência garantida 
nesse mundo feroz
e mal amado 

Por Ridrya Carolin

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O resultado da subtração





As horas estavam passando rápido demais. A noite já estava chegando ao fim. Ele fechava os olhos, perseguindo o sono que não vinha. Rolava na cama de um lado para o outro, mudava de posição de dois em dois minutos e de nada adiantava. Depois de tantas tentativas em vão, ele se rendeu a insônia. Encarava o teto branco que nada de especial tinha, mas no meio desse grande nada ele via o rosto dela. Por que era tão difícil esquece-la? Por que ele não conseguia fingir que ela não existia? Dizem que a pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos. Ele nunca iria poder confirmar isso. Nem se tentasse, conseguiria mentir para si mesmo.
Ele não era mais um garoto. Já era um homem formado, experiente, vivido. Ele sabia muito bem que essa obsessão por ela tinha um nome, mas não tinha explicação. Ela não era a mulher certa para ele. Ela nem se quer era uma mulher ainda. Era um jovem em transição, ainda estava no início da vida adulta e nada do mundo sabia. Ela era ingênua, acreditava em coisas tolas. Coisas que ele já deixara de acreditar há muito tempo e perto dela, de certa forma, voltava a crer em coisas boas de novo sem se sentir um tolo por isso. Ele voltava a rir de coisas sem graça. As vezes, nem sabia porque estava rindo, só acompanhava a risada dela consequentemente. Ela tinha a irritante mania de rir sozinha, rir do nada. A maioria de suas conversas começavam com uma briga, pois ela era acostumada a achar que tinha razão em tudo e nunca ficava sem argumentos válidos. E por mais estranho que pareça, as conversas terminavam com um entendimento. Eles se entendiam, a maneira deles, respeitando um ao outro.
Ela era jovem e insegura, mas diferente das outras mulheres, ela não fazia rodeios, demonstrava confiar no seu taco e nunca entrava em um jogo que podia perder. Todo dia ela vinha com um problema que ela mesma criou e ele sempre tinha a solução que ele mesmo achou. Os dois tinham visão diferente de mundo, ela era sonhadora e ele realista. Ela era sensata e ele impulsivo. Ela tinha medo de qualquer emoção mais forte e ele não demonstrava qualquer sentimento inesperado. Os dois evitavam criar expectativas, mas afogavam-se em ilusões toda vez que os olhos eram fechados e o coração aberto.
Os dois se amavam e se correspondiam.
Depois de dois casamentos fracassados e tantos relacionamentos que não chegaram a durar um mês, o que ele podia saber sobre o amor? Depois de tantos anos andando por ai, acompanhado a evolução do mundo, vendo todos os tipos diferentes de amor, ele nunca aprendera a amar? Nenhuma de suas várias experiências lhe mostrou que amor não é programado para acontecer em somente um período da vida. Ninguém lhe falou que o amor não escolhe hora, não escolhe década, não vê as diferenças. O amor acontece. O amor vem e fica. Ele riu dessa ironia. Não foi nenhuma das suas ex-esposas que lhe ensinou isso, não foi nenhuma mulher de idade próxima a sua, mas sim, uma garota muito mais nova. 
Mesmo com os olhos pesados, ele se sentia mais acordado do que nunca. Abriu a janela e deixou o vento entrar, tomando conta do espaço e fazendo a voz dela ecoar pelas paredes. Fazia meses desde a sua partida. Ele desistiu de tudo, desistiu dela. Foi fazer o certo, mas a solidão não lhe caía bem e ele se sentia errado. Foi atrás de paz, mas não havia paz nas vozes que lhe seguiam como a própria sombra. 
As lembranças daquele dia tomaram conta da sua mente e ele reviveu a conversa que tiveram.
 - Esquece os outros! Sobre o que eles sabem? Do que eles entendem? Eles não conhecem a gente. - ela disse, entrelaçando os dedos nos dele e segurando firme a sua mão. - Esquece a tal conta de diferença. Os números não vão mudar. Eles só continuaram sendo nossos inimigos se você deixar. 
Ele abaixou a cabeça e soltou uma breve risada, fruto de seu desespero. 
- Eu nunca gostei de matemática. - ele voltou a encara-la, compartilhando do mesmo olhar triste que o dela. - O resultado da nossa subtração não vai sumir. Não podemos ignorar isso e acreditar que os problemas vão estar resolvidos. 
- Você quer resolver uma conta? - ela perguntou alterando a voz. - Que tal essa: Eu - Você = infelicidade, agonia, saudade, solidão. O resultado não é positivo de todo o jeito. 
Faltava algumas horas para o amanhecer. Ainda não tinha sinal de sono nenhum em seus olhos e agora ele não conseguiria mais dormir sem resolver algo. Algo que não poderia esperar até o nascer do sol. Uma chama reacendeu dentro de si e ele sentiu algo que há muito tempo tinha o abandonado. Esperança.
A campainha tocou, surpreendendo-a. Ela não estava esperando por ninguém essa hora da madrugada. Por sorte não estava dormindo. Depois de tantas tentativas em vão de pegar no sono, ela desistiu e foi ler um livro. Soltou o cabelo que estava preso em um coque mal feito, correu até a porta e olhou pelo olho mágico quem era. Seus olhos se arregalaram e seu coração acelerou, batendo tão apertado que começou a lhe faltar o ar. 
Ela abriu a porta e os dois se olharam em silêncio, sem saber o que dizer ou fazer. Ela estava surpresa com a visita dele e ele estava aliviado por finalmente vê-la. Ambos parados ali, um na frente do outro, era como se nunca tivessem se separado. 
- O que você está fazendo aqui? - ela perguntou com a voz falha, quebrando o silêncio.
- Eu precisava ver você.
- Faz seis meses desde...- ela parou, engolindo um seco. 
- Eu sei. 
- Por que só agora?
- Porque só hoje eu descobri algo muito importante.
Ele deu um passo para frente, acabando com o espaço que separava os dois. 
- O que? 
Aquela aproximação a pegou desprevenida, criando uma intensidade tão forte que era impossível desviar o olhar dos olhos dele. 
- O amor reprovou em matemática. 
Ele respondeu simplesmente, abrindo um grande sorriso. Ela não esperou outra iniciativa e passou rapidamente os braços em volta do pescoço dele, sentido seus pés saírem do chão. Ele a rodopiou, encostando os lábios nos dela como se não restasse segundo nenhum para o despertador tocar.
 

Por Ridrya Carolin