quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Amor de escritora


A vida complicou depois que você chegou e bagunçou o que já não era arrumado. 
Na verdade, depois de você muita coisa complicou, bagunçou, mudou. 
Você chegou assim tão de mansinho, tão quietinho, tão na sua. Você chegou como uma brisa leve de um fim de tarde, como um raio de sol tímido no início da manhã. Mas não, você não era e nunca foi calmaria. Você era fogo desde o começo, era perigoso e convidativo. Você me queimava com os olhos e me deixava em chamas com um só toque. 
Você era aquela atração incontrolável e gostosa que todo mundo tem que ter pelo menos uma vez na vida. 
Você era simples. Era o cara que eu gostava de brincar de amar numa festa, na madrugada, nos imprevistos e que no dia seguinte não me afetava em nada, na semana seguinte eu já nem mais lembrava. 
Você era passageiro, visitante, hóspede nos finais de semana. O que eu convidava a entrar e convidava a se retirar. Ia e vinha, mas não ficava. Não durava muito. Não permanecia na minha casa. Logo ia embora, dando um adeus alegre e dizendo "até a próxima". 
E eu gostava assim. Gostava de ter você perto para me animar e longe para eu não me acostumar. 
Depois de você, eu passei a entender porque não se pode brincar com fogo sem se queimar. Porque não se pode andar na ponta dos pés na corda bamba achando que sempre terá equilíbrio para não cair. Porque não se pode abrir a porta e deixar alguém entrar sem correr o risco de terminar sozinha no meio da bagunça que há tempos você já havia arrumado.
Eu nunca te olhei com os olhos, nunca te beijei com a boca, nunca te toquei para te sentir. Eu nunca me vi ameaçada pelo perigo que você representava. Sempre te bloqueei na minha cabeça, na minha imaginação, no meu coração. Sempre tive você comigo, te deixando a uma certa distância. 
Pra mim, você sempre foi diversão e, de repente, virou frio na barriga. Você sempre foi brincadeira de pega-pega e, de repente, virou esconde-esconde. Você sempre foi aventura e do nada virou constância. Você sempre foi vontade e acabou virando necessidade. 
Droga! Quando foi que eu comecei a notar aquela covinha no canto esquerdo do teu sorriso? Quando eu comecei a saber diferenciar o cheiro do teu perfume no meio de vários outros? Quando eu comecei a notar que você é meu primeiro "casinho" que na hora de mandar mensagem sabe colocar as vírgulas nos lugares certos e sabe diferenciar "mas" de "mais"? Quando eu comecei a ri do som da tua risada? Quando meu coração começou a se tremer todo com uma das tuas longas olhadas? 
Quando eu comecei a achar teu coração mais bonito que a tua carinha de cachorro brincalhão? 
Quando, exatamente, eu passei a te achar o cara mais maravilhoso do mundo?
Você era simples até o momento em que eu te compliquei. Nós estávamos arrumados até o momento em que eu nos baguncei. 
Agora, justo eu que nunca quis ser nada de ninguém, tô aqui louca pra ser sua. Mas a pior parte dessa minha loucura que foi te querer, é saber que eu nunca vou te ter e aceitar calada que seu coração já é de outra pessoa. 
Mal sabe essa tal garota a sorte que ela tem, mal sabe ela que ela tem meu mundo nas mãos. Mal sabe ela que justo você, que nunca quis ser nada de ninguém, tá ai louco pra ser dela. Mal sabe ela que ela deve ser a tua complicação, a tua bagunça. 
Pra você, eu nunca vou passar de algo simples, fácil, descartável. 
E eu não te culpo, eu te entendo. Eu não tenho nada que você queira, nada que você vá gostar, nada que seja do seu agrado. 
A única coisa que eu tenho para te oferecer é uma garota que vai te transformar em poesia, em crônica, em um personagem de algum romance. Uma garota que vai te fazer de inspiração, que vai te enxergar em lugares que você não consegue ver, que vai te tocar em lugares onde você não consegue alcançar. Uma garota com o dom de te eternizar em palavras. 
A única coisa que eu tenho para te oferecer é o amor de uma escritora. 
Eu sei. Não é muito. E talvez você não tenha interesse nenhum e talvez até ache graça, mas é tudo que eu tenho. 
Sinto muito.

Por Ridrya Carolin 

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