terça-feira, 2 de agosto de 2016

Entre 4 paredes


Nós tínhamos um acordo. 
Depois de tanto tempo indo e vindo, se encontrando e se perdendo, se querendo e se aturando, nós seriamos amigos coloridos, ficantes fixos. Sem exigências, sem exclusividades, nem compromisso. Na frente dos outros seriamos eu e você, bons e velhos amigos, cada um no seu canto. E entre quatro paredes seriamos nós, um bom e velho casal, cúmplices, amantes. 
Esse era nosso acordo. Amigos comuns lá fora e amigos com benefícios aqui dentro. Nos privamos do mundo para ter o nosso próprio mundo onde não haveria preocupações com brigas e com o falatório alheio. Mas no geral, nosso acordo é e continua sendo de ser amigos. Era isso que combinamos desde o começo: preservar nossa amizade, cuidar um do outro. 
Então, por que de uma hora para outra você resolveu nos transformar em estranhos na frente das outras pessoas? Por que teus olhos começaram a evitar os meus? Por que tua mão evita fazer contato com a minha pele? Por que você resolveu nos afastar totalmente do mundo e nos guardar apenas aqui entre essas quatro paredes? Por que de repente viramos desconhecidos e paramos de ser amigos?
Você me afastou. Me empurrou para longe, me jogou para fora da pista, me deixou fora da sua vista. E eu fiquei aqui, tentando não me importar e ao mesmo tempo tentando entender. Você modificou nosso acordo sem nem mesmo pedir minha permissão ou perguntar minha opinião. Você nos transformou em desconhecidos lá fora e ficantes aqui dentro. 
E mesmo assim, você ainda me segurou e não me deixou ir. Todas vez, quando estou prestes a trancar a porta do nosso quatro para sempre, você me puxa de volta para dentro e me pede para ficar. Você não sabe o que quer, mas sabe o que não quer: você não quer me perder. Você quer me ter, mas a ideia de que eu também te tenha é absurda demais e você se assusta. E mais uma vez você me afasta e se muda. Mais uma vez só existimos entre quatro paredes e para o mundo não somos nada além de meros conhecidos. 
Foi então que me dei conta de que o problema não era e nunca fui eu. Não era de mim que você tinha vergonha, não era a mim que você queria esconder. 
O problema é e sempre foi você.
É você que tem vergonha de si mesmo e quer se esconder de todos.
E fazendo um tremendo esforço, eu até consigo te entender. Pega mal para o cara que tem fama de "Garanhão Indomável" ser visto segurando minha mão ou me dando um abraço longo e carinhoso. Vai ficar muito feio pra você se seus amigos souberem que a gente gosta de deitar agarradinho, que a gente conversa sobre coisas íntimas e rir de coisa tontas, que você me acha a mulher mais inteligente que já conheceu e o meu perfume é teu cheiro preferido, que você gosta de me abraçar por trás porque sabe que vou segurar seus braços para não mais me soltar, que você gosta de colocar o nariz entre o meu cabelo e gosta ainda mais quando eu te beijo naquele espacinho entre o pescoço e a orelha e você fica arrepiado.
Mas ninguém pode saber dessas coisas. 
Ninguém! 
Muito menos a macacada que você chama de amigos. 
Para o mundo você tem que ser aquele cara desapegado, descomprometido, que não quer ninguém e não tá nem aí pra nada. Já no mundo, por de trás das quatro paredes que nos deixam invisíveis, você se permite ser e ter o que, no fundo, te faz falta.
Sabe, você não me perguntou se eu aceito a condição de ser o seu escape, mas eu te respondo de bom grado. Eu não aceito!
Eu não aceito ser a garota que aqui dentro você adora e lá fora você ignora. Eu não aceito que você queria ser meu apenas quando as luzes estão apagadas e que seja de todas quando as luzes estão acessas. Eu não aceito que você seja um homem quando está só nós dois e que seja só mais um moleque quando aparece todos os outros depois.
Você é tão bobo que não enxerga que seus amigos, na verdade, devem morrer de inveja. Você é tão bobo que dá voz ao seus medos e traumas invés de dá voz as suas vontades, aos seus instintos, as suas necessidades. 
Não vou negar, nem pra você e nem pra ninguém. Eu vejo em você um grande potencial, eu vejo um coração bondoso e um cara que precisa e que quer ser cuidado. Eu gosto de você, dentro e fora dessas quatro paredes. Mas no momento, eu não posso ser cúmplice da sua farsa e nem uma coadjuvante nesse seu teatro. Não posso apoiar e nem ter ao meu lado o Garanhão Indomável, por que quem eu quero do meu lado é você. Sem máscaras, sem disfarces, sem poses, sem fama. Não quero o cara que se alimenta de uma tal reputação. Eu quero o homem que você esconde aí dentro, e que só se mostra quando não tem ninguém vendo. 
Então, vamos fazer assim: quando o homem que você é se libertar do Garanhão Indomável que você finge ser, me procure. Quando você estiver pronto para ser só você, quando você se permitir amar e ser amado, venha até mim.
E quem sabe, se o tempo ainda estiver a nossa disposição, ainda haja uma chance de a vida deixar eu e você acontecer.
Mas por enquanto, olhando pela janela dessas quatro paredes, eu paro e penso: hoje ele é só mais um garoto que fica de cama em cama em busca de prazer e carinho, mas no fim da noite volta para casa insatisfeito e sozinho. 

Por Ridrya Carolin 

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