terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O farol


Eu estava procurando alguma foto para postar no seu aniversário nessa quarta-feira e entre as milhares que nós tiramos nesse pouco tempo em que nos tornamos amigas, eu achei a primeira foto que tiramos juntas.
Naquela época eu mal te conhecia e acho que até então nunca tínhamos parado para conversar de verdade. 
Eu fiquei ali parada olhando aquela foto por uns longos minutos. Nós duas abraçadas no sofá (pelas nossas roupas, devia estar bem frio) numa reuniãozinha só de meninas na casa de uma delas. Íamos fazer pastel, brigadeiro e dançar daquele jeito que não dançamos de jeito nenhum na frente dos outros. 
Então, eu me lembrei de como tudo começou. 
De como nós começamos. 
De como você entrou na minha vida e de como muita coisa mudou desde aquela noite fria de abril. 
Eu estava numa fase difícil, num momento complicado, com o coração machucado e a cabeça bagunçada. 
Na festa passada, eu voltei pra casa mordendo os lábios com força para não chorar na frente dos outros, mas acho que não deu muito certo, eu nunca fui boa de esconder o que eu sinto de todo jeito. No dia seguinte, você me mandou mensagem perguntando se estava tudo bem e eu disse que estava (eu menti, é claro!). Eu até fiquei bastante surpresa com a sua mensagem, afinal não eramos amigas ainda. 
Mas acho que esse foi o estopim. 
Foi o primeiro feixe de luz vindo do farol que é você.
Na noite daquela foto, eu não queria sair de casa, não queria ver ninguém, mas acabei indo. Você estava fritando os pasteis na beira do fogão quando eu cheguei perto e fiquei ali quieta. Acho que devia estar estampado na minha cara que eu não estava nada bem ou desde aquela época você já sabia ler minhas expressões. 
Você ouviu tudo que eu falei. Eu te contei tudo que aconteceu, tudo que eu sentia. Você ainda era uma estranha pra mim e mesmo assim eu nunca tinha sentindo tanta segurança ao falar com alguém. Eu desabafei, joguei pra fora tudo que tava preso dentro de mim há bastante tempo. Você me aconselhou, me deu colo, me deu casa. 
Eu estava tão perdida. Acho que tudo que eu precisava era alguém pra conversar, pra confiar. Eu me sentia sozinha. Era uma cidade nova com pessoas desconhecidas, garotas malvadas e garotos babacas. Você me ensinou a ser forte, me ensinou a não ligar para opinião dos outros, a acreditar mais em mim. Me mostrou que fazendo ou não, as pessoas maldosas sempre vão falar, inventar, julgar. 
Eu estava no escuro e você foi minha luz. 
Você foi meu farol. 
Faz pouco tempo, mas a amizade que construímos é tão forte que deixou o próprio tempo para trás. O amor que eu sinto por você é tão seu que eu sorrio o teu sorriso, eu choro as tuas lágrimas, eu ganho as tuas conquistas, perco as tuas derrotas, odeio quem te odeia e machuco quem te machucar. 
Eu viro dor só pra fazer companhia para tua solidão. 
Eu viro luz só pra não te deixar no escuro. 
Eu viro espelho só pra te fazer enxergar a parte de você que já faz parte de mim. 
Eu viro casa só pra te abrigar sempre que o temporal levar as telhas do teu coração embora. 
Acredite, se um dia eu te magoar ou der alguma mancada, nunca será com a intenção de te fazer sofrer, nunca será de propósito. Eu sou incapaz de fazer mal as pessoas que habitam meu coração, porque esse meu coração {com aconchego de casa e já tão entregue aos seus moradores} também sofre a tua dor de maneira tão plena e intensa que bate por mil de uma vez só. 
Eu sei que o tal do "eterno" as vezes prega a peça na gente, muda nossos planos, nossa direção, tira, coloca e devolve pessoas nas nossas vidas o tempo inteiro. Se depender de mim, eu te quero para sempre do meu lado, mas caso o acaso (que primeiramente nos juntou) nos ponha em mundos diferentes no futuro, eu quero que você saiba que o meu amor será eterno até o último momento enquanto durar.
A aniversariante é você, mas quem ganhou o presente fui eu. Eu ganhei uma anjinha rabugenta, grossa, mandona, que tem mania de dançar olhando pra cima, grita do nada e sempre enche meu saco. E, ainda sim, é um anjo que me cuida, me anima, me fortalece e me ama. 
Talvez seja esse o ponto chave da nossa amizade, perto de você eu me sinto verdadeiramente amada. 
Numa noite qualquer, de um dia comum do mês de abril, você apareceu quando eu menos esperava e acabou sendo o que eu mais precisava. 
E, desde então, eu nunca mais fiquei no escuro. 

PS: "O farol significa uma luz, uma direção a seguir, o caminho do bem que guia o homem na vida."

Para ler ouvindo: Jessie J - Flashlight

Por Ridrya Carolin 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Alguém como você


Você disse que eu ia me apaixonar de novo. 
Depois de uma crise de choro longa e dolorida, de uma serie de desabafos sendo jogados do coração boca a fora e do meu desespero roubando o ar dos pulmões, eu deitei a cabeça no seu ombro. E ficamos ali em silêncio debaixo da madrugada, sentados no banco em frente a sua casa, olhando a rua sossegada.
Você esperou eu me acalmar, jogar tudo que deixei preso aqui dentro por tempos, esvaziar a cabeça pra pensar com clareza e finalmente me calar para me dizer que eu ia me apaixonar de novo. 
Mas não desse jeito bagunçado, castigado e maldoso. Não com meu coração sempre sendo posto a prova de fogo e beirando a morte ao se queimar nessa brincadeira de "quem se entregar primeiro, apanha". Não com o meu gostar sendo desvalorizado e submisso de pouca coisa, de uma meia atenção, de um romance meio bosta, perdido num meio sem fim nem começo. 
Não. Não seria mais esse tipo de paixão. Que, afinal, de paixão não tinha nada, passava longe do pré-destinado, do esperado, do surpreendido. Era mais uma prisão disfarçada de paixão, de contragosto com um leve toque de bem-me-quer. 
Você me disse que isso não era estar apaixonada porque não tem como se apaixonar por quem não te faz bem pelo menos 23 horas por dia, por quem não te faz sorrir durante um beijo, por quem não afaga teu cabelo por carinho, por quem não te escolhe, por quem não te faz ser única. 
Amor sem reciprocidade não é amor, é tortura. Paixão que só faz efeito para um não te torna um apaixonado, te torna um prisioneiro. 
Seja lá o que fosse isso que eu sentia, eu não queria de novo nunca mais na vida. Mas você continuava a insistir que sim, eu iria me apaixonar de novo. 
E seria diferente. 
Por alguém diferente.
Você disse que um dia eu iria encontrar alguém que me levaria para tomar um café e conversar sobre coisas avulsas, igual como fizemos na sexta passada enquanto discutíamos o final de How I Met Your Mother ( que, de acordo com você, foi épico, já pra mim foi uma bosta). Alguém que não me procura durante a semana de prova porque sabe que eu não existo pra ninguém além dos estudos, mas que é o primeiro a me mandar mensagem quando a semana acaba sobre qualquer assunto que não sejam as provas, exatamente como você faz. Alguém que conta o troco pra mim sem eu pedir, porque sabe que meu cérebro não funciona quando tem números envolvidos e, claro, que vai me xingar de burra toda vez que isso acontecer igual como você faz. 
Você disse que eu iria me apaixonar por alguém que tem toda a paciência do mundo comigo quando entro numa livraria e fico mais de três horas andando entre os livros, igual como você faz quando fica olhando a seção de CDs para passar o tempo enquanto me espera. Alguém que me acha a garota mais estranha do mundo quanto to sentada no sofá e do nada começo a rir sem parar, igual como você faz quando enche meu saco querendo saber o motivo da minha risada. Alguém que me liga só pra falar do vídeo que o amigo idiota mandou e que passa mais tempo rindo na ligação do que falando alguma coisa concreta, do jeitinho que você faz quando acha algo engraçado. Alguém que note alguma diferença entre mim com 15 anos e com 20 já que todo mundo insiste em dizer que eu não mudei nada, igual como você notou que meu rosto afinou e meu cabelo deu uma escurecida. Alguém que consiga até mesmo mudar minha cabeça, como você fez sobre a minha opinião de caras com tatuagens grandes igual a que você tem no antebraço.
Você disse que não teria como eu não me apaixonar por alguém que me fizesse dançar no meio pátio "There is a Light That Never Goes Out" do The Smiths, como você sempre faz nas festas aqui em casa quando essa música toca na seleção do seu pen-drive. Por alguém que vem cantando no carro comigo durante todo o caminho músicas dos anos 80 porque sabe que eu não me aguento ouvindo um rock antigo, como você faz quando deixa de lado seu sertanejo brega só para me ver dando uma de cantora. Por alguém que sempre lembra de mim quando aparece aquela mocinha de tal filme, igual como você faz toda vez que insiste em dizer que aquela personagem babaca da Lily Collins em "Ligados pelo Amor" sou eu em vida ou que tem alguma coisa na Aria de Pretty Little Liars que parece demais comigo ( isso porque você jura de dedinho que não assiste essa serie de mulherzinha, mas eu tenho minhas dúvidas a esse respeito).
Você me prometeu que eu iria me apaixonar por alguém que durante todos os momentos, iria me fazer sorri aquele meu sorriso bobo que não se mostra muito na frente dos outros, mas que sempre aparece quando você está perto. Alguém que iria fazer eu me sentir bem, simplesmente bem só por estar bem. Bem por inteiro, bem por estar em paz, bem por ser eu mesma. Alguém que não me faça de opção, me faça de escolha. Me faça exclusiva, especial e única do jeito em que eu sou para você.
Você disse que eu iria me apaixonar por alguém que fosse tipo um melhor amigo, como você acabou se tornando depois daquele desastre que foi o dia em que nos conhecemos.
Eu levantei a cabeça do seu ombro e te olhei. Você parecia tão certo do que dizia, que sem querer eu acreditei. 
Mesmo depois de alguns anos, eu ainda me pegava pensando em tudo que você me disse naquela noite com tudo que eu já tinha vivido de lá pra cá. 
E você estava errado. 
Eu não me apaixonei de novo.
Pela primeira vez, eu me apaixonei de verdade. 

PS: Sabe, talvez desde aquela noite eu já fosse apaixonada de verdade. Mas acho que meu amor estava confuso e dando atenção para pessoa errada. E, confesso, eu sempre amei essa tatuagem de leão no seu antebraço (que pra você significa força e coragem).
Ah, antes que eu pareça totalmente injusta, sobre uma coisa você estava certo: não tinha como eu não me apaixonar por alguém como você.


Por Ridrya Carolin 

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Mil coisas que eu nunca te contei


Estava chovendo, caindo o mundo lá fora. 
O vento dava socos violentos nas janelas e nas portas. Alguns respingos da chuva invadiam as dobradiças da entrada da varanda, molhando o chão. As cores acinzentadas do clima refletiam-se pelas vidraças iluminando a escuridão da casa a sua maneira opaca e singular. Eu me sentei no sofazinho próximo a janela do meu quarto, bebericando uma caneca de café bem quente enquanto olhava para o nada na paisagem da velha cidadezinha do interior, num domingo monótono e vazio.  
Era apenas eu ali. Da sala para cozinha, do quarto para o banheiro, do corredor para o chão, dos olhos nas janelas embaçadas para o teto branco. 
Era eu, a chuva, o escuro e o silêncio da casa. 
O grito brusco do trovão me arrepiou dos pés à cabeça. Dei um pulo, assustada e chamei uma série de palavrões em voz alta. Droga! Será que eu não mudo? 20 anos depois e eu ainda tinha medo de trovão.
Mas eu nunca te contei isso, né? Acho que você nunca soube dos meus medos de trovão, do escuro e de baratas. Na verdade, acho que não te contei muitas coisas. Sobre mim, sobre você, sobre nós. Acho que eu nunca te contei nossa história no ponto de vista dos meus olhos, do meu coração, da minha imaginação. Nunca te narrei a trama desse quase romance protagonizado e dirigido apenas por mim. 
Faz tanto tempo que eu não te vejo. Tanto tempo que não ouço falar de você, que não sei das suas histórias, das suas aventuras e loucuras. Tanto tempo que não ouço a tua voz falar meu nome. Eu nunca te contei, mas eu sentia um frio na barriga agonizante toda vez que você falava meu nome, fosse num rápido chamado, num grito no meio da rua ou num sussurro ao pé do ouvido. Meu nome se tornava mais bonito na tua boca, mais especial na tua voz que sempre seduziu meus ouvidos. 
Eu nunca te contei, mas eu sei qual é o teu sorvete preferido mesmo sem nunca termos ido juntos a uma sorveteria. Eu sei que você arregala os olhos quando conta uma mentira descarada, que anda de um lado para o outro quando está incomodado e que reprime vários sorrisos quando está do meu lado.
Eu nunca te contei que logo na primeira vez que eu te vi, naquela reuniãozinha de poucas pessoas na chácara da minha amiga, eu me encantei por você. Foi de súbito, de surpresa e imprevisível. Foi questão de segundos, foi só bater o olho, foi logo a primeira vista. Eu te vi e uma onda enorme e pesada me arrastou para dentro de ti. Ignorei o máximo que eu pude, me fiz de desentendida e te fiz de desinteressante. Não sei se você lembra, mas naquela época eu estava quase "sério" com outro alguém. E meu olhos, que eu julgava só conseguirem enxergar a ele, se voltaram para ti sem o menor esforço.
Eu nunca te contei que na primeira vez que você chegou em mim eu fiquei sem ar. Fiquei sem defesa, sem controle, esqueci como se faz charminho e quase cedi a tentação de te querer. Foi por um triz, foi por muito pouco, mas naquela época eu ainda sabia por onde fugir. Eu ainda sabia pensar só em mim. 
Eu acho que eu também nunca te contei que você foi a primeira pessoa que me fez ver que o cara com quem eu estava não era nada do que eu imaginava. Você disse algo curto e rápido, talvez até sem intenção, mas que me mostrou coisas que eu não queria ver e que demorei para aceitar. 
Eu nunca te contei, mas eu me lembro da blusa que você usou na primeira vez que a gente se beijou. Eu ainda tenho guardada na cabeça a imagem do teu sorriso, ainda consigo escutar a péssima cantada que você falou, ainda posso sentir o cheiro do teu perfume que, alias, até hoje é o mesmo. Depois de encontrar você, eu sempre voltava pra casa com teu cheiro impregnado na minha pele. E nunca existiu nenhum outro perfume que superasse o teu cheiro misturado ao meu. 
Eu nunca te contei, mas eu me lembro de tudo. De todos os momentos, todas as falas, todos os segundos. De todas as mágoas, as raivas, as carícias, os sorrisos. De todos os dias, tardes e noites. De todas as festas, churrascos, aniversários. Da primeira vista, do primeiro encontro, primeiro beijo, ficada e dormida. Primeira saudade, briga e ciúme. Do primeiro reencontro, da primeira ida e primeira volta.  
Eu me lembro de todas as primeiras e últimas vezes que eu te vi, que eu te beijei, que eu fui só sua e te amei. 
São mil coisas que eu nunca te contei. 
Mas, pensando bem, eu te contei sim. Te contei tudo. Não deixei faltar nada, nenhum detalhe, nenhuma rasura. Mas você nunca soube ouvir o meu silêncio, nunca soube ler meus olhos, nunca soube me entender. Talvez você nem quisesse, nem se esforçasse, nem fizesse questão. 
Você nunca viu, nunca ouviu, nunca entendeu.
Era eu. 
Esse tempo todo era eu. A peça que faltava naquela lacuna, o encaixe perfeito do teu espaço vazio. Eu esperei todo esse tempo você descobrir que essa falta sem explicação que você frequentemente sente, era eu. Mas o tempo cansou de mim, eu cansei do tempo e nós cansamos de você. 
Meu amor, se você tivesse parado pra prestar atenção no meu olhar, no meu olho dentro do teu, nos teus olhos em cima do meu. Nos nossos olhares. Nos rápidos, nos demorados e nos fixos. Nos provocantes, insinuantes, descarados e fogosos. Nos tímidos, nos de soslaio e chorosos. Nos flagrados, nos sem querer, nos de propósito. E, até mesmo, nos evitados, escondidos e indecifrados. 
Estava o tempo todo ali, no meu olhar. Bem na sua frente, bem na sua cara. Tão cheio de significado. Tão cheio de palavras, de música e poesia. Tão cheio de voz, de coragem e determinação. Tão entregue e temente a você.
Foram mil palavras, mil revelações, mil segredos, mil declarações em mil olhares de todos os tipo, de todos os ângulos, de todo jeito possível em todo lugar. 
Mil coisas que eu te contei sem te dizer. E, mesmo assim, você nunca soube e nem nunca vai saber.
Ainda existe mais outras mil coisas que eu não contei e nem sei se um dia irei contar, seja pela minha voz ou pelo meu olhar.
Mas nesse exato momento, eu só queria te contar que tudo que eu mais quero é correr pra você no meio da rua debaixo dessa chuva entre uma trovoada. E, quem sabe, pela primeira vez, eu não tenha medo de trovão. 


Por Ridrya Carolin

domingo, 2 de outubro de 2016

Na sua estante


Eu tô cansada. 
Tô exausta, dolorida, de saco cheio de tudo. De você, da sua bipolaridade, da sua indecisão, da sua criancice, do seu jogo. Tô cansada de ficar aqui tentando me bastar com o pouco que você me dá.  Tendo que te dividir com as outras ao mesmo tempo em que sei que não dá pra dividir o que não se tem.
Eu te deixei mal acostumado. 
Eu já comecei fazendo tudo errado e agora já não pode mais dar nada certo. Eu entrei no teu jogo, joguei do seu jeito, segui as suas regras. Deixei de lado as minhas próprias regras, as minhas táticas, a minha lógica, o meu pensamento formado. Eu abri uma exceção para essa confusão que é nossa relação. Eu me empenhei, eu fui paciente, tolerante, diferente do meu comum. 
Eu mudei de forma para me encaixar em você, e talvez tenha sido esse o meu maior erro. Eu te mal acostumei a me ter na hora que quiser, a me encontrar sempre que precisa de um momento além do físico, a voltar sempre que a noite agitada não consegue te satisfazer. Eu te ensinei a me ter, a me conquistar, a me domar. Eu te dei a formula secreta para me driblar, te contei onde fica a chave que abre meu coração, te passei a receita de como me fazer de trouxa com meu consentimento. 
Você me tem na sua estante. Tira, pega, usa, brinca a hora que quer. E guarda, esconde, esquece a hora que enjoa. Mas nunca me joga fora mesmo quando me muda de lugar, nunca se livra, nunca se desfaz. Você faz total questão de me ter ali, debaixo da tua vista, dentro da tua vida, envolta as tuas coisas. 
Eu sou a garantia do teu seguro. Você dorme tranquilo, anda por toda a festa despreocupado, some por uns tempos sem ligar pro tempo. Pra você, eu tô quieta na estante e de lá não saio.
Mas eu me cansei. 
Eu não sou de ferro, caramba. Eu aguento muita porrada, mas também desabo. Eu aceito tá perdendo o jogo e continuar insistindo, mas também me canso. E, felizmente, também sei me aceitar quando desisto. E tô precisando fazer isso. Acabar com tudo antes que tudo me acabe. Saí do jogo antes que eu me vicie, antes que eu também me acostume mal e passe a me bastar dessa vida de migalhas que você me dar, antes que eu fique presa na tua forma e perca de vez a minha. 
Você nunca esteve interessado em ganhar a mim, você queria ganhar de mim. Queria ganhar seu jogo. Então, dessa vez, eu decidi te dar a partida de mão beijada. E não só a do jogo, mas também a minha partida. 
Meu bem, desculpe a falta de educação, mas vá brincar sozinho ou arrume um novo brinquedo. Eu me mudei da sua estante. Eu voltei para bagunça do meu quarto. É muito melhor estar aqui sozinha e perdida em mim do que continuar sozinha e perdida em você.
O seu grande problema é que, pra você, eu só me torno interessante quando, pra mim, você já não é mais importante. 


Por Ridrya Carolin 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Alguém que não me deixe ir


Eu não preciso de alguém que atraía a atenção de todos. 
Não preciso de alguém que tenha uma beleza inestimável, que siga o padrão dos filmes americanos (o tal cara de cabelos loiros e olhos claros).
Não preciso de alguém com títulos e posses, que troque de carro todo ano ou que me compre presentes que eu nem vou usar. Alguém com dinheiro o bastante para sustentar uma nação.  
Não preciso de alguém que venha me ver de tarde, mas que nunca pode ficar a noite inteira. Alguém que rejeita minhas ligações quando alguma coisa mais interessante está passando na televisão ou que só me procura quando está carente.
Não preciso de alguém que me exiba como um troféu na frente dos convidados e que nem note minha presença quando estamos sozinhos. Alguém que exalta qualidades que nem se quer sabe se existe ou não em mim. Alguém que me faça duvidar de tudo e que não acredita nos meus planos para o futuro. Alguém que quando não estou olhando, lança olhares suspeitos para minha "amiga" oferecida.
Não preciso de alguém que me ache perfeita ou que me faça de uma distração perfeita. Alguém que só sente minha falta quando está uma semana longe, que só me procura quando eu não quero mais ser achada, que só lembra de mim quando já me acostumei a ser esquecida, que só se esforça por nós quando já estou cansada.
Eu não preciso de alguém que só me ama quando me deixa ir.
O que eu preciso é simples.
Eu preciso de alguém que se destaque no meio da multidão. Alguém com olhos tão brilhantes que seria capaz de iluminar uma casa escura. Alguém que veja luz nos meus olhos. Alguém que ria do meu jeito desajeitado.
Preciso de alguém que tenha carisma o bastante para sustentar meu coração. Alguém que venha me fazer visitas inesperadas, que deite comigo até eu pegar no sono e que esteja do meu lado no momento em que eu abri os olhos de manhã.
Preciso de alguém que precise de mim.
Alguém que me mande mensagens de bom dia e que me ligue de noite para saber se está tudo bem. Alguém que segure minha mão e me apresente para todos os seus amigos. Alguém que me tire para dançar, mesmo sabendo que não sou uma boa dançarina. Alguém que não diga coisas bonitas, mas verdadeiras. Alguém que não me ache perfeita, mas que me aceite com a minha mala cheia de defeitos.
Preciso de alguém que não me faça ciúmes, mas que faça inveja nos outros pelo nosso companheirismo e pelos segredos que compartilhamos. Alguém que veja o meu melhor e que seja paciente com o meu pior.
Alguém que me desafie até eu criar coragem, que me provoque até eu ficar, que consuma cada pedaço meu até eu me render. Alguém que derrube meus muros e que roube meu coração sem piedade. Alguém que me liberte para o mundo e me prenda para si.
Preciso de alguém que abra minha mente, que amplie meus horizontes, que me mostre uma nova perspectiva. Alguém que diga as verdades que eu não quero ouvir. Alguém que destrua meu esconderijo e vire meu refugiu.
Preciso de alguém que me mostre o que é amar. O que é ser amado. Alguém que me mostre o que é o amor por inteiro, sem ausentar o seu bem e o seu mal.
Preciso de alguém que não me deixe ir.
Alguém que sobreviva a mais forte de todas as nevascas.
Eu preciso de alguém que me faça acreditar.
Já cansei de só ser querida, desejada, amada quando você não pode me ter.  

Por Ridrya Carolin

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A pessoa errada


"Numa hora a pessoa certa aparece. Ele era o cara errado".
Quantas vezes você já não ouviu isso? Da sua amiga, da sua mãe, avó, vizinha ou seja lá de quem. Crescemos associando que o fracasso na vida amorosa e as longas noites de solidão são devidas a falta da tal "pessoa certa" na nossa vida. Estamos todos a espera da pessoa certa, a espera de alguém que vá mudar tudo que conhecemos e achávamos que conhecíamos. Até os solteiros de plantão na balada estão involuntariamente a espera de alguém. 
Nossa vida é uma espera constante. E em meio a essa espera tentamos nos bastar com o pouco que aparece, tentamos entender e buscar explicações para coisas que não estão ao nosso alcance, tentamos descobrir coisas que parecem não querer serem descobertas. A espera é longa, cansativa e cheias de história inacabadas para contar. Até que chega o momento em que você não sabe mais o que, na verdade, está esperando. A pessoa certa? Quem é a pessoa certa? O que é a pessoa certa?
A pessoa certa pode ser qualquer um por ai. Pode ser o cara que me manda mensagem de boa noite todo dia antes de ir dormir, o cara que senta na minha frente na sala de aula, o cara que ignorou todas as outras meninas na festa de sábado só para ficar conversando comigo no canto, o cara que trabalha no comércio da rua de cima e deixa estampado na cara que casaria comigo se eu quisesse. O mundo está cheio de pessoas certas. Tem pessoas certas em todo lugar. Eu estou cheia de pessoas certas a minha volta. Se pelo menos eu desse uma chance para alguma delas, talvez eu finalmente me tornasse a namorada de alguém, talvez finalmente desse certo. 
Então, eu me pergunto, por que eu não as quero? Sempre briguei comigo mesma por nunca conseguir entender o porque de eu não gostar de uma dessas pessoas que tá mais do que na cara que gostam de mim. Como não gostar? Ele é todo certinho, gosta de você, quer namorar você, quer conhecer e cuidar de você. Tá ai bem na sua frente. A pessoa certa, não é? Não. Não, porque ele é só mais uma pessoa certa que faz eu me sentir errada.
Hoje, eu finalmente entendi que nem sempre a pessoa certa te faz se sentir certa. 
Então, cheguei a conclusão de que eu não quero a pessoa certa. 
Eu nunca quis o que era certo. De certo na minha vida basta eu. Eu quero o errado. Quero o beijo errado num lugar errado com o cara errado. Eu quero alguém que me faça perder a hora, perder a fala, perder o ônibus, perder as chaves, perder o juízo, perder a cabeça. 
O errado te deixa com os hormônios à flor da pele, te deixa louca, vibrante, quente, ácida. Te faz sentir coisas, te faz sentir tudo e mais um pouco. Te deixa com as pernas bambas, com o coração acelerado, com frio na barriga, com a cabeça girando. O errado te envolve como um todo, alcança todos os pedacinhos do teu ser, do teu corpo, do coração, da alma. Ele mexe, toca, bagunça tudo. Ele é o único que tira e traz sua paz de volta. O único que ao mesmo tempo te deixa feliz e triste, que te conforta e te poem em perigo e que te liberta e também prende.  
Está com a pessoa errada é como viver um filme de ação com cenas de amor, é dançar um rock pesado com letra romântica. Está com a pessoa errada é sentir a adrenalina, é correr, suar e desvencilhar. 
Pessoas certas são chatas, previsíveis, empáticas. Pessoas certas trazem tédio para sua vida, já as erradas trazem emoção. 
E se, por acaso, é a pessoa errada que faz você se sentir certa, pra que esperar? Tem algo mais certo do que isso?

Para ler ouvindo: Keane - Somewhere Only We Know

Por Ridrya Carolin

domingo, 7 de agosto de 2016

Não deixe qualquer um entrar


Não, de jeito nenhum. 
Qualquer um menos esse!
Olha só pra ele: sorriso lindo, olhos castanhos, jeito de menino, aparência de homem. 
Tá bom. 
Dá mais uma olhada: bom de lábia, mãos rápidas, desculpas decoradas, beijou cinco na balada, todo desapegado, não quer nada com nada. 
Lindo, mas cafajeste. Divertido, mas mentiroso. Fala como príncipe, mas não passa de um Lobo Mau assumido. 
Ok. Isso tudo eu e minha cabeça já sabemos e já o reprovamos logo de cara. Agora vai contar para o coração, que enxerga não sei com o que, mas com certeza não é com os olhos e muito menos com o bom senso. De tudo que eu descrevi, o coração apenas viu aquilo que ele quis e pronto. Deletou todo o resto.
Que fácil você, hein. Bastou uma palavra bonita aqui e outra ali, um beijo lento e ardente, um segurar de mãos delicado e firme, uma troca de olhares demorada e cheia de intenções que já gamou no cara errado. 
O pior de tudo é você saber que o cara é errado. E o cara nem disfarça, já vem escrito na testa "Vou te fazer sofrer, gata". E mesmo assim você não controla as borboletas no estômago, o arrepio na pele, a tremedeira nas pernas e o nervosismo que o coração tá espancando no peito. 
Você e sua cabeça estão de acordo, uma do lado da outra, jogando no mesmo time. O problema de tudo é o coração. Ele não tá nem aí pra você, pro que você sabe e acha. Ele só se importa com o que ele sente. Ele vira teu pior inimigo se você tentar impedi-lo, mas não te dá ouvidos. 
E, mais uma vez, lá estava o coração fazendo merda. Lá estava ele achando que sabe de tudo, se sentindo o dono da razão, certo de que está no controle da situação. 
Lá estava o coração sonhando acordado e me arrastando para dentro de mais um pesadelo.
Um rápido conselho: não caia nessa história de avó de "segue seu coração" ou "escute sempre o coração" que é tudo furada. O coração não sabe de nada. É pior do que criança, não pode deixa-lo sozinho por alguns instantes que já apronta uma.  
Sei lá.
Eu só queria que meu coração fosse um pouco mais difícil e um pouco menos entregue. Fizesse um pouco mais de charme e um pouco menos de gracinha. Forçasse um pouco mais a barra e se deixasse levar um pouco menos. Fosse um pouco mais teimoso e um pouco menos tolerante. Fosse um pouco mais seletivo e um pouco menos compreensivo. Fosse um pouco mais racional e um pouco menos sentimental.
Eu só queria que meu coração me quisesse um pouco mais e um pouco menos você. 
Mas o danado do coração não perde tempo. Já pintou as paredes de cor castanho-dos-teus-olhos, já aparou os medos no quintal, já colocou as expectativas no forno e espanou o morfo passado de cima do presente. Já preparou tudo para tua visita como se já soubesse da tua chegada. Ele já se renovou todo, está novinho em folha. 
Agora, ele só te espera. Agora, ele só quer te abrigar, te cuidar, te refugiar. Agora, ele quer ser a tua casa. 
De muito bom grado, ele fez de tudo para deixar o lugar do teu agrado. Com muito bom gosto, ele decorou todo lugar seguindo o manual dos teus gostos. E cheio de esperança, ele se vestiu de você pra ver se você o notava. 
O coração esperou, esperou e esperou mais um pouco. Mas você não veio, nunca apareceu. Não deu nenhuma satisfação, não fez nenhuma ligação, não deixou nenhum recado. E como já era tarde, ele apagou as luzes, trancou a portar e foi deitar. 
Acho que o coração só queria te agradar, te impressionar, chamar tua atenção. Só queria que você gostasse dele ou ao menos lhe desse uma chance. 
Agora, ele tá aqui sozinho no meio da sala esparramado no chão, olhando todo o esforço em volta e entristecido por ter sido em vão. 
Moça, abre o coração somente para quem queira mesmo entrar. Somente para quem mereça ver como é a decoração de dentro, como são os cômodos de cada parte da tua essência, como guarda cada lembrança revelada nos porta-retratos em cima da estante, como esconde cada segredo dentro de um bau lá no sótão. 
Teu coração é abrigo, é refúgio, é lar, é mar, é planeta, é universo, é imensidão, é família, é amigo, é companheiro, é casa.
Moça, teu coração é um bom lugar. Não deixe qualquer um entrar.

Para ler ouvindo: Clarice Falcão - Qualquer Negócio

Por Ridrya Carolin

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A primeira vez


Falam que no mundo de hoje virgindade não é nada. 
Idealizam demais algo que no fim acaba sendo banal. 
As primeiras vezes vão ocorrendo na nossa vida tão naturalmente que nem nos damos conta de quando não somos mais virgens de beijo, de sexo, de porre, de fumar, de traição, de perdas, de coração partido ou de viajar sozinho. Até mesmo nosso cabelo perde a virgindade numa hora ou outra, seja de uma tintura ou de uma progressiva.
O problema é que a virgindade mais difícil e talvez a que mais queremos que aconteça, é mais difícil de perder.
Perder a virgindade de amar. 
Essa sim, é a mais esperada e, por consequência, a mais demorada.
O meu corpo, a minha alma, o meu coração são virgens de amor.
Eu sou virgem de amor.
Eu nunca me entreguei e nunca fui recebida. Eu nunca fui bem vinda, nunca passei de uma rápida visita. Nunca fui convidada para passar a noite e nunca dividir minha cama. Nunca me despir na frente de alguém e fiquei nua a ponto de algum "ele" ver que eu tenho medo de trovão, que quando quero chorar eu sento no chão, que quando tô feliz eu sorrio à toa e quando tô triste eu fecho a cara, que às vezes eu acordo de madrugada para tomar uma xícara de café ou de chá, que eu falo mil coisas e no fim não falei nada, que me apego a tudo muito rápido e enjoo de tudo muito fácil, que meu humor é bipolar e minhas crises são escondidas, que o meu drama extrapola o tolerável e a minha raiva me explode, que eu sofro calada e sou feliz em silêncio, que meu carinho é extravagante e minhas declarações são tímidas, que tenho medo de amar e amo com medo. 
Falam que a primeira vez sempre dói. 
Então, talvez essa seja a razão para o teu sorriso torto, o teu olhar de cachorro pidão e o teu jeito de criança alegre me doerem tanto.

Para ler ouvindo: Everything I Own - Bread (aperte em cima para ouvir a música)

Por Ridrya Carolin

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Amor de escritora


A vida complicou depois que você chegou e bagunçou o que já não era arrumado. 
Na verdade, depois de você muita coisa complicou, bagunçou, mudou. 
Você chegou assim tão de mansinho, tão quietinho, tão na sua. Você chegou como uma brisa leve de um fim de tarde, como um raio de sol tímido no início da manhã. Mas não, você não era e nunca foi calmaria. Você era fogo desde o começo, era perigoso e convidativo. Você me queimava com os olhos e me deixava em chamas com um só toque. 
Você era aquela atração incontrolável e gostosa que todo mundo tem que ter pelo menos uma vez na vida. 
Você era simples. Era o cara que eu gostava de brincar de amar numa festa, na madrugada, nos imprevistos e que no dia seguinte não me afetava em nada, na semana seguinte eu já nem mais lembrava. 
Você era passageiro, visitante, hóspede nos finais de semana. O que eu convidava a entrar e convidava a se retirar. Ia e vinha, mas não ficava. Não durava muito. Não permanecia na minha casa. Logo ia embora, dando um adeus alegre e dizendo "até a próxima". 
E eu gostava assim. Gostava de ter você perto para me animar e longe para eu não me acostumar. 
Depois de você, eu passei a entender porque não se pode brincar com fogo sem se queimar. Porque não se pode andar na ponta dos pés na corda bamba achando que sempre terá equilíbrio para não cair. Porque não se pode abrir a porta e deixar alguém entrar sem correr o risco de terminar sozinha no meio da bagunça que há tempos você já havia arrumado.
Eu nunca te olhei com os olhos, nunca te beijei com a boca, nunca te toquei para te sentir. Eu nunca me vi ameaçada pelo perigo que você representava. Sempre te bloqueei na minha cabeça, na minha imaginação, no meu coração. Sempre tive você comigo, te deixando a uma certa distância. 
Pra mim, você sempre foi diversão e, de repente, virou frio na barriga. Você sempre foi brincadeira de pega-pega e, de repente, virou esconde-esconde. Você sempre foi aventura e do nada virou constância. Você sempre foi vontade e acabou virando necessidade. 
Droga! Quando foi que eu comecei a notar aquela covinha no canto esquerdo do teu sorriso? Quando eu comecei a saber diferenciar o cheiro do teu perfume no meio de vários outros? Quando eu comecei a notar que você é meu primeiro "casinho" que na hora de mandar mensagem sabe colocar as vírgulas nos lugares certos e sabe diferenciar "mas" de "mais"? Quando eu comecei a ri do som da tua risada? Quando meu coração começou a se tremer todo com uma das tuas longas olhadas? 
Quando eu comecei a achar teu coração mais bonito que a tua carinha de cachorro brincalhão? 
Quando, exatamente, eu passei a te achar o cara mais maravilhoso do mundo?
Você era simples até o momento em que eu te compliquei. Nós estávamos arrumados até o momento em que eu nos baguncei. 
Agora, justo eu que nunca quis ser nada de ninguém, tô aqui louca pra ser sua. Mas a pior parte dessa minha loucura que foi te querer, é saber que eu nunca vou te ter e aceitar calada que seu coração já é de outra pessoa. 
Mal sabe essa tal garota a sorte que ela tem, mal sabe ela que ela tem meu mundo nas mãos. Mal sabe ela que justo você, que nunca quis ser nada de ninguém, tá ai louco pra ser dela. Mal sabe ela que ela deve ser a tua complicação, a tua bagunça. 
Pra você, eu nunca vou passar de algo simples, fácil, descartável. 
E eu não te culpo, eu te entendo. Eu não tenho nada que você queira, nada que você vá gostar, nada que seja do seu agrado. 
A única coisa que eu tenho para te oferecer é uma garota que vai te transformar em poesia, em crônica, em um personagem de algum romance. Uma garota que vai te fazer de inspiração, que vai te enxergar em lugares que você não consegue ver, que vai te tocar em lugares onde você não consegue alcançar. Uma garota com o dom de te eternizar em palavras. 
A única coisa que eu tenho para te oferecer é o amor de uma escritora. 
Eu sei. Não é muito. E talvez você não tenha interesse nenhum e talvez até ache graça, mas é tudo que eu tenho. 
Sinto muito.

Por Ridrya Carolin 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Entre 4 paredes


Nós tínhamos um acordo. 
Depois de tanto tempo indo e vindo, se encontrando e se perdendo, se querendo e se aturando, nós seriamos amigos coloridos, ficantes fixos. Sem exigências, sem exclusividades, nem compromisso. Na frente dos outros seriamos eu e você, bons e velhos amigos, cada um no seu canto. E entre quatro paredes seriamos nós, um bom e velho casal, cúmplices, amantes. 
Esse era nosso acordo. Amigos comuns lá fora e amigos com benefícios aqui dentro. Nos privamos do mundo para ter o nosso próprio mundo onde não haveria preocupações com brigas e com o falatório alheio. Mas no geral, nosso acordo é e continua sendo de ser amigos. Era isso que combinamos desde o começo: preservar nossa amizade, cuidar um do outro. 
Então, por que de uma hora para outra você resolveu nos transformar em estranhos na frente das outras pessoas? Por que teus olhos começaram a evitar os meus? Por que tua mão evita fazer contato com a minha pele? Por que você resolveu nos afastar totalmente do mundo e nos guardar apenas aqui entre essas quatro paredes? Por que de repente viramos desconhecidos e paramos de ser amigos?
Você me afastou. Me empurrou para longe, me jogou para fora da pista, me deixou fora da sua vista. E eu fiquei aqui, tentando não me importar e ao mesmo tempo tentando entender. Você modificou nosso acordo sem nem mesmo pedir minha permissão ou perguntar minha opinião. Você nos transformou em desconhecidos lá fora e ficantes aqui dentro. 
E mesmo assim, você ainda me segurou e não me deixou ir. Todas vez, quando estou prestes a trancar a porta do nosso quatro para sempre, você me puxa de volta para dentro e me pede para ficar. Você não sabe o que quer, mas sabe o que não quer: você não quer me perder. Você quer me ter, mas a ideia de que eu também te tenha é absurda demais e você se assusta. E mais uma vez você me afasta e se muda. Mais uma vez só existimos entre quatro paredes e para o mundo não somos nada além de meros conhecidos. 
Foi então que me dei conta de que o problema não era e nunca fui eu. Não era de mim que você tinha vergonha, não era a mim que você queria esconder. 
O problema é e sempre foi você.
É você que tem vergonha de si mesmo e quer se esconder de todos.
E fazendo um tremendo esforço, eu até consigo te entender. Pega mal para o cara que tem fama de "Garanhão Indomável" ser visto segurando minha mão ou me dando um abraço longo e carinhoso. Vai ficar muito feio pra você se seus amigos souberem que a gente gosta de deitar agarradinho, que a gente conversa sobre coisas íntimas e rir de coisa tontas, que você me acha a mulher mais inteligente que já conheceu e o meu perfume é teu cheiro preferido, que você gosta de me abraçar por trás porque sabe que vou segurar seus braços para não mais me soltar, que você gosta de colocar o nariz entre o meu cabelo e gosta ainda mais quando eu te beijo naquele espacinho entre o pescoço e a orelha e você fica arrepiado.
Mas ninguém pode saber dessas coisas. 
Ninguém! 
Muito menos a macacada que você chama de amigos. 
Para o mundo você tem que ser aquele cara desapegado, descomprometido, que não quer ninguém e não tá nem aí pra nada. Já no mundo, por de trás das quatro paredes que nos deixam invisíveis, você se permite ser e ter o que, no fundo, te faz falta.
Sabe, você não me perguntou se eu aceito a condição de ser o seu escape, mas eu te respondo de bom grado. Eu não aceito!
Eu não aceito ser a garota que aqui dentro você adora e lá fora você ignora. Eu não aceito que você queria ser meu apenas quando as luzes estão apagadas e que seja de todas quando as luzes estão acessas. Eu não aceito que você seja um homem quando está só nós dois e que seja só mais um moleque quando aparece todos os outros depois.
Você é tão bobo que não enxerga que seus amigos, na verdade, devem morrer de inveja. Você é tão bobo que dá voz ao seus medos e traumas invés de dá voz as suas vontades, aos seus instintos, as suas necessidades. 
Não vou negar, nem pra você e nem pra ninguém. Eu vejo em você um grande potencial, eu vejo um coração bondoso e um cara que precisa e que quer ser cuidado. Eu gosto de você, dentro e fora dessas quatro paredes. Mas no momento, eu não posso ser cúmplice da sua farsa e nem uma coadjuvante nesse seu teatro. Não posso apoiar e nem ter ao meu lado o Garanhão Indomável, por que quem eu quero do meu lado é você. Sem máscaras, sem disfarces, sem poses, sem fama. Não quero o cara que se alimenta de uma tal reputação. Eu quero o homem que você esconde aí dentro, e que só se mostra quando não tem ninguém vendo. 
Então, vamos fazer assim: quando o homem que você é se libertar do Garanhão Indomável que você finge ser, me procure. Quando você estiver pronto para ser só você, quando você se permitir amar e ser amado, venha até mim.
E quem sabe, se o tempo ainda estiver a nossa disposição, ainda haja uma chance de a vida deixar eu e você acontecer.
Mas por enquanto, olhando pela janela dessas quatro paredes, eu paro e penso: hoje ele é só mais um garoto que fica de cama em cama em busca de prazer e carinho, mas no fim da noite volta para casa insatisfeito e sozinho. 

Por Ridrya Carolin 

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Indefinidos


Eles não eram um casal.
Disso todo mundo sabia, mas ninguém entendia. Não havia um meio certo para explica-los ou uma única palavra para defini-los. Eram felizes demais para serem namorados e estavam juntos demais para serem só amigos. A verdade é que eles se davam bem demais para serem qualquer coisa. Era até mesmo difícil de saber se realmente gostavam um outro, pois pareciam não se importar com  a monogamia ou com todo o drama que sempre surge entre duas pessoas que se envolvem. 
Eles curtiam sair, curtiam ficar, curtiam a companhia um do outro quando se encontravam. Eles se curtiam. Sem compromisso, sem rótulos, sem dramas, sem clichês. Eles não davam satisfação um para o outro e nem para os outros. Não exigiam, não insistiam. Ele viviam. O momento, a madrugada, a balada, os imprevistos, o sábado a noite. 
Eles eram namorados dentro do carro naquela rua deserta e amigos no vai e vem da rotina. Eles eram de boa e estavam de bem. Eles eram uma incógnita para os desocupados, assunto para os fofoqueiros e incomodo para os invejosos. 
Eles eram indefinidos. 
E foi assim, devagar e sem pretensão, que o casual virou frequência, a conveniência virou vontade e o descaso virou importância. Foi natural e divertidamente que "os dois" no individual virou "os dois" no plural.
"Meus amigos vão fazer um churrasco e jogar truco. Vamos? Vamos!"
"Vou chamar minhas amigas para comer uma pizza aqui em casa. Traga algum amigo seu e venha. Vou!"
"Vai ter uma festa sábado. Vamos? Vamos!"
"Hoje vou sair só com meus amigos. Vai!"
"Hoje é o dia das meninas. Se divirta!"
Eles não se importavam de tomar uma cervejinha sozinhos numa quarta a noite no bar do seu Mendonça, de sentarem na frente da casa dela para jogar conversa fora, de irem numa reunião na casa de algum amigo dele onde só ia ter homem, de irem comer sushi na casa de alguma amiga dela onde a maioria das "amigas" eram tudo fura-olho ou de irem numa festa com um monte de gente que os dois conheciam muito bem o tipo. Eles não se importavam com os outros, eles se importavam de estarem juntos, mesmo que não fossem no mesmo lugar. 
Eles eram e continuavam sendo indefinidos.
Mas davam certo. Sem o menor esforço, sem criar complicações, sem levar a sério brigas bobas, sem dar ouvidos a terceiros, sem cobranças e nem desconfianças. 
Eles bebiam juntos, dançavam juntos, saiam juntos, se queriam juntos, se amavam juntos. 
E sabe por que dava tão certo? 
Porque eles não eram apenas solteiros, amigos coloridos, ficantes ou namorados. 
Eles eram, acima de tudo, parceiros. 
E era essa parceria que os definia. 

Por Ridrya Carolin

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Acabou



Acabou.
Finalmente acabou.
E não graças a você. Não graças às suas atitudes de moleque, não graças a sua covardia, ao seu egoísmo e a sua falta de carácter. Isso apenas me ajudou a acelerar o processo que já deveria ter obtido sucesso há tempos, desde quando você se escondeu no silêncio, desde quando sua máscara caiu.
Acabou porque finalmente eu parei de ter pena de mim e passei a ter pena você. Afinal, quem saiu perdendo aqui foi você. Você que perdeu meu respeito e minha admiração. Perdeu uma grande e verdadeira amiga. Mas acima de tudo, perdeu a chance de ser amado. E chances assim não aparecem a todo tempo, não aparecem para qualquer um. Não é toda mulher com capacidade (ou burrice o suficiente) igual a mim para conseguir ver por de trás de um moleque, um homem.
Então, eu parei. Parei de pensar, parei de analisar, de tentar entender, de buscar respostas, de formular teorias, de exigir explicações. Eu simplesmente parei e essa foi a melhor atitude que eu já tomei. Você não é um caso a ser estudado, você não é um bom motivo para eu perder meu sono e muito menos meu tempo.
Você é um caso perdido que não quer ser encontrado.
E sim, nessa história sem pé nem cabeça, sem começo e nem fim, sem sentido e nem lógica, eu também saí perdendo. Não só meu tempo que foi perdido e minha energia que foi gasta a toa. Eu perdi a parte de mim que queria se entregar, que queria acreditar. Perdi aquela parte que se importava, a parte que era primavera e florescia para a pessoa errada. 
Agora, aqui dentro, é tudo inverno. É tudo caos e gélido.
E, infelizmente, essa parte que é inverno, talvez vire nevasca para a pessoa certa.
Finalmente acabou porque eu me livrei de você e libertei a mim.
Diferente do conto de fadas, a fera não virou príncipe, o meu beijo não quebrou a maldição do sapo e com certeza o moleque não virou homem.
O problema já estava explícito desde o começo: eu era mulher de mais para um homem de menos.

Para ler ouvindo: Acabou - Roberta Campos (aperte em cima para ouvir a música)

Por Ridrya Carolin